Aqui há uns anos tive uma conversa com um gestor que acabara de passar por uma experiência muito traumática, conversa que nunca esqueci. Originário de famílias muito humildes, confessara-me que atribuía boa parte da responsabilidade do seu fracasso a ser um “outsider”. Por outras palavras, não possuía as ligações certas, as amizades mais convenientes, os laços familiares indispensáveis.
Ouvi-o com cepticismo, mas tomei nota, até porque o respeitava e respeito. E desde então muito do que fui vendo acontecer neste nosso Portugal passou também pelo crivo dessa leitura, e com consequências devastadoras: no meu país a “igualdade de oportunidades” era bem menos real do que eu pensava e, sobretudo, do que o discurso oficial proclamava.
Revi todo este processo ao ouvir João Miguel Tavares neste 10 de Junho – e depois ao verificar como certos corifeus da nossa esquerda reagiram. E se até encontro na minha experiência de vida explicação para a minha ilusão – vivi os anos da “explosão” do sistema de ensino, tal como assisti de perto à radical substituição das elites proporcionada pela revolução de 1974, vi tantas mudanças que pensei que tudo era possível –, a verdade é que começo a ver cada vez mais exemplos de como há quem tenha os caminhos sempre abertos e quem tenha, por regra, os caminhos barrados.
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