Prezada pessoa que optou por não tomar vacina (não, não escrevo a quem, por alguma razão, não PODE tomar vacina, escrevo aos que podem e mesmo assim decidem não tomar), não sei se você é um anti-vaxxer ou se você é alguém que simplesmente decidiu não se vacinar agora. Talvez você nem saiba o que é um anti-vaxxer, talvez nem saiba que há muita coisa por trás dessa sua decisão. Não sei se a decisão de não se vacinar foi realmente sua ou foi inspirada por um político, um religioso, um vizinho ou um influenciador irresponsável qualquer que você segue nas redes sociais.

De qualquer forma, imagino que quase nenhum de vocês tenha se dado ao trabalho de ler livros como Stuck – How vaccine rumors started – and why they don’t go away (como os rumores sobre as vacinas começaram – e por que eles não vão embora), de Heidi J. Larson, ou qualquer outra obra séria que trate sobre o assunto. Em geral, quem se informa com boas fontes chega à fácil conclusão de que vacinar-se é a coisa certa a fazer.

Enfim. Pergunto se você, que não quer se vacinar, conhece alguém que morreu de sarampo recentemente. Acredito que não. Isso acontece porque foi possível conter a propagação da doença através da imunização coletiva – ou seja, através da vacinação. Por outro lado, pergunto se você conhece alguém que morreu por conta da Covid-19. Imagino que sim. E isso acontece exatamente porque ainda não é possível conter a propagação do vírus.

O problema é que essa contenção seria possível se pessoas como você não se negassem a tomar a vacina. O ator brasileiro Tarcísio Meira faleceu essa semana, aos 85 anos, por conta de complicações derivadas da Covid-19. Ele já tinha tomado duas doses da vacina e muita gente desinformada disse que isso era prova de que a vacina não funciona. Pelo contrário, isso é a prova de que gente que não toma vacina acaba, mesmo que indiretamente, por gerar mortes como essa, de alguém que tentou se cuidar. Se a imunização coletiva já tivesse acontecido, o vírus não continuaria se propagando dessa forma e contaminando pessoas, vacinadas ou não.

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A vacina reduz a probabilidade de contaminação e reduz drasticamente o número de casos graves. Pessoas completamente vacinadas representam menos de 4% dos mortos por Covid. Mas, sim, há um risco, especialmente naquilo que diz respeito aos idosos. Risco esse que poderia ser reduzido – e muito – se todos se vacinassem, compreendendo que esse é um pacto coletivo. Ou seja, não se vacinar não é apenas a decisão de se colocar em risco, mas a decisão de colocar todos os demais em risco.

É a velha história: sua liberdade vai até o ponto em que se inicia a liberdade do outro. Decidir não se vacinar é algo que invade a esfera da segurança do outro. Decidir não se vacinar é, além de falta de informação, demonstração plena de falta de civilidade e de falta de compromisso social. Não, não é um mero exercício da sua suposta liberdade. É uma afronta à saúde dos demais – tenham consciência disso.

Todos os sábados na Rádio Observador, logo depois do noticiário das 14 horas, Ruth Manus convida mulheres notáveis para falar sobre a vida, amores e desamores, filhos e trabalho. Conversas descontraídas que os homens também devem ouvir em Mulheres não são chatas, Mulheres estão exaustas