Quem ficou surpreendido com os resultados eleitorais, tem agora a prova de que os portugueses, diante do leque de possibilidades que tinham por diante, como sempre, escolheram bem. Pelo menos os que contaram para essa escolha. Portugal deve ser o único país que se diz democrático e, ao mesmo tempo, em vez de encontrar soluções para reduzir a abstenção, aposta, eleição após eleição, na desistência de mais eleitores. Desta vez foram os eleitores do círculo da Europa que ficaram a saber que para a próxima não é preciso incomodarem-se. Os políticos dispensam o seu voto.

Passado o frenesim eleitoral, eis que o país acordou sem problemas de maior. O debate político dedica-se há mais de quinze dias a dar palco a malucos que falam de brancos caucasianos (a sério? donde é que surgiu isto agora?). Num nível mais sofisticado, discute-se a interessante eleição de um vice-presidente da Assembleia da República. Todos sabemos como essa importante escolha é determinante para o nosso futuro. E ainda, guiados por gráficos televisivos, discutimos os lugares em que se vão sentar os senhores deputados.

Diante de debates tão substanciais, não temos dificuldade em concluir que António Costa é o único adulto na sala. O resto do país político ainda está na creche. Uns com a síndrome de Benjamin Button, à medida que envelhecem tornam-se crianças de colo sem discernimento, como o PSD e o CDS. Outros com problemas de adaptação à sala dos crescidos, como a IL e o Chega. Outros com necessidades especiais e com dificuldade em adaptar-se à nova realidade, como o PCP e o BE.

Quem passa pelos principais debates, ditos políticos, fica com a sensação de que Portugal está imune às grandes questões que afligem o mundo: crise energética e de fornecimentos, inflação, regresso às regras do euro, aumento das taxas de juro, instabilidade internacional e a perspetiva de uma guerra na Europa. Tudo temas menores para os partidos políticos que nos pediram o voto há meia dúzia de dias.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Diz-se que o povo é sábio e a realidade tem-no demonstrado. À falta de alternativa escolheram o adulto que até já estava habituado a tomar conta da casa. Desta vez aprenderam a lição e preferiram evitar que António Costa fosse vítima de más influências. É que os portugueses estão mesmo preocupados com o que aí vem. Sabem que não vão passar os próximos quatro anos a brincar às políticas com discussões surreais que não têm nada a ver com as suas vidas. Isso é para os deputados que asseguraram o lugar no Parlamento.

Resta agora esperar que com o novo governo venha uma vontade acrescida de fazer o que ainda não foi feito. António Costa gosta de bater recordes a abater muros. Tem agora a oportunidade de fazer cair o muro do imobilismo e aproveitar as condições únicas de governabilidade que os portugueses lhe quiseram dar para reformar e modernizar o país.

Eu estou a torcer pelo sucesso do próximo governo. E já agora torço também para que os quatro anos de pousio tragam alguma lucidez aos restantes partidos políticos. A prolongar-se a falta de noção do debate dos últimos dias, o mais certo é que em 2026 levem uma abada ainda maior.