Estreou um novo filme do James Bond. Tempo para recordar que os filmes antigos do James Bond é que eram bons. Como, por exemplo, o clássico de 1963, “Da Rússia, com Amor”, protagonizado por Sean Connery, e recordação dos tempos em que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas era a grande ameaça para o ocidente. Ou era isso, ou era o “sol da terra”, como diria, com um brilhozinho nos olhos, Álvaro Cunhal. Uma destas duas coisas a ex-URSS era. Deixo-vos a tarefa de concluirem qual seria, tomando a liberdade de sugerir um método: revejam as imagens da queda no muro de Berlim, se necessário com recurso ao slow motion, e tentem perceber para que lado as pessoas correram.

Por estes dias, no que a ameaças ao ocidente diz respeito, e apesar da Rússia continuar a ter o seu lugar muito especial, quem leva a palma é, claro, a República Popular da China. Tanto é que julgo ser pertinente, logo que possível, a produção de um novo capítulo da saga 007, talvez denominado “Da China, com Ganas de Fazer Amor Connosco à Bruta”. Fica a ideia. E, de nada, MGM.

Bom, o que é relevante para o caso é que a China lá vai palmilhando o seu caminho rumo ao domínio mundial, com aquela paciência que reconhecemos aos chineses. Fico é com a sensação que quando se fala em “paciência de chinês” a maioria das pessoas pensa num lânguido urso panda, típico daquelas paragens. Quando estou convencido que a dita paciência chinesa vai beber mais à calma do caracol de água doce. Ali, a aguardar, com todo o vagar, que a sua gosma transmita os parasitas que, todos os anos, matam vinte vezes mais que os crocodilos.

Diria, portanto, que estes são dois mundos em colisão: o chamado Império do Meio, e aquela coisa a que não há meio de se poder chamar algo remotamente semelhante a um “império”, conhecida como “mundo ocidental”. E esse embate ficou bem patente nos últimos dias. Ora vejam lá, a título de exemplo, o que se passou ontem. A China enviou quase 100 aviões de guerra para o espaço aéreo de Taiwan. Inclusive pelo menos um avião capaz de transportar bombas nucleares. Enquanto isso, por cá, a manobra militar de que todos falam é o recebimento, por parte do vice-almirante Gouveia e Melo, de um Globo de Ouro da SIC. Sim, sim. O Globo de Ouro de melhor música foi para Carolina Deslandes, com o tema “Por um Triz”, já o prémio Mérito e Excelência dos Globos de Ouro foi para o vice-almirante Gouveia e Melo. Que, a meu ver, merecia também o Globo de Ouro de personalidade do ano na moda, por ter feito do padrão militar uma nova tendência.

Ao receber o galardão, Gouveia e Melo referiu que o vai entregar ao Ministério da Saúde, “como recordação de uma batalha” que todos venceram “em conjunto”. E que esta “batalha” contra a Covid-19 é uma “guerra mundial”. Enfim, confesso o meu semi-analfabetismo ao nível do jargão marcial, mas depois de gastar os termos “batalha” e “guerra mundial” para referir um processo de vacinação, que vocábulos restarão ao vice-almirante para descrever, por exemplo, sei lá, as possíveis consequências da China enviar 100 aviões de guerra para o espaço aéreo de Taiwan, incluindo um avião capaz de transportar bombas nucleares? Peço desculpa pela minha ignorância. Isto são coisas de quem não foi à tropa.

Mas calma. Longe de mim menorizar o trabalho de campo do vice-almirante Gouveia e Melo. Não é qualquer um que rabisca organigramas em quadros brancos a mandar pessoas, absolutamente aquiescentes, para uns sítios, e seringas com aguadilhas, absolutamente aquiescentes, para outros sítios. Pessoas e seringas com aguadilhas, essas, que depois têm de estar, em simultâneo, noutros sítios. E digo mais. Esta nossa campanha de vacinação contra a Covid-19 é menina para destronar, em futuros compêndios de História, o desembarque na Normandia. Que exagero? Quantos Globos de Ouro da SIC ganhou o Eisenhower? Ah, pois.

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