Temos assistido a infernos de chamas, na Austrália, como antes na Amazónia, e um pouco por todo o lado. Rapidamente se aponta a culpa às Alterações Climáticas. Mas, será mesmo assim?

O fogo na Austrália remonta aos confins dos tempos: já existia antes dos Arborígenes que, por seu lado, o usam como ferramenta há milénios. O fogo faz parte da natureza australiana. Com efeito, todo e qualquer verão na terra dos cangurus apresenta um elevado risco de incêndio – calor e secura.

Não podemos ignorar, contudo, que a acção humana pode ter elevado impacto sobre a manifestação do fenómeno. A título de exemplo, podemos atender à variação demográfica: a população australiana quintuplicou (de 5 para 25 milhões de pessoas) no último século. Basta termos em consideração que lá, como cá, a maioria das ignições é humana, para entendermos que não é algo a descurar. Por outro lado, o fogo enquanto factor natural, é algo endógeno dos ecossistemas, resultando do défice de exploração destes. Isto é, o sistema produz, a produção é consumida (para aproveitamentos humanos, por herbívoros, por decompositores…) e desse balanço, pode-se criar um excedente. Esse excedente é a “fatia” do fogo, e ele, inevitavelmente, vem reclamá-la. Alterações na gestão dos combustíveis são assim, um outro factor de primeira ordem. Tão importante como incompreendida, esta gestão tem decaído nos últimos anos.

O assunto é, assim, mais complexo do que à partida podia parecer, havendo, portanto, diversas variáveis a ter em conta. Mas… e quanto ao que ao Clima diz respeito?

Bom, o que salta à vista da análise do padrão climático australiano, é a sua grande variabilidade como nota dominante, alternando anos secos com húmidos, anos quentes com frios… é assim desde que há registos a partir do séc XVIII. Têm-se observado alterações nalguns parâmetros climáticos, é certo, contudo, apenas perceptíveis em ligeiras tendências de aumento ou diminuição em séries longas.

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Que esta tem sido uma estação infernal no que a incêndios diz respeito? É inegável. Todavia, as 3 sessões anteriores quase não tiveram fogo. Onde estava a influência das tendências climáticas? Analisando o histórico de fogo, e colocando este ano em perspectiva, percebemos ainda que, apesar de terríveis, os números actuais (28 mortos, 2000 casas destruídas, 17 milhões de hectares ardidos) estão ainda muito longe de outros no passado, casos de 2009 em que perderam a vida 173 pessoas, ou de 1983 em que mais de 10 mil casas foram destruídas, ou de 1975 em que arderam 117 milhões de hectares. Adicionalmente, estas catástrofes recorrentes tanto ocorrem em anos mais secos como mais húmidos, mais quentes ou mais frios.

Desta forma, face à ecologia do fogo na Austrália e ao seu historial, face à variabilidade climática natural ou face à existência de outras variáveis a pesar, atribuir culpas às Alterações Climáticas torna-se muito complicado.

Não obstante, reina o alarmismo. Há quem diga até, que não é fogo é capitalismo, ignorando que na Austrália, como na Amazónia, como no mundo em geral, o fogo não está a aumentar, muito pelo contrário, até tem vindo a diminuir (Doerr & Santín 2016; Arora & Melton 2018; GWPF 2019). Mas, sinal dos tempos nesta era da informação que experienciamos, uma percepção social desfasada é… compreensível: as redes sociais estão apinhadas de mapas e fotografias fraudulentos, assistimos a ataques políticos, somos abordados por falsos fundos a pedir dinheiro, e a própria comunicação social, muitas vezes, é também ela um agente de desinformação – afinal, mesmo sem atender a derivas sensacionalistas, as catástrofes são notícia. Não é difícil acreditar.

E partindo deste clima de histeria, em vez de debatermos soluções de gestão – incluindo o uso do próprio fogo contra o fogo, uma solução de base natural, mais barata, mais eficaz e mais equilibrada em termos ambientais – assim como a exposição de menos pessoas ao risco, ouvimos antes os perigos e as consequências que a Austrália terá sem políticas robustas de Acção Climática.

A sério? Eram 0,05% a menos nas temperaturas globais, assumindo que num estalar de dedos a Austrália descarbonizava totalmente, que acabariam com os incêndios e deixavam as pessoas e seus bens em segurança? Ou é mesmo só aproveitamento irresponsável das catástrofes, para promoção de agendas?