O lema escolhido pelo Partido Socialista para marcar o início do novo ciclo político fala por si. Continuar a Avançar é talvez a frase menos mobilizadora da política nacional. Depois de dois anos de pandemia e, agora, uma guerra na Europa com consequências já bem visíveis na nossa vida quotidiana, Continuar a Avançar pode mesmo ser equivalente a Caminhar para o Abismo.

As notícias destes primeiros dias de legislatura confirmam a ausência de chama com que António Costa e o PS se apresentam ao país para mais quatro anos e seis meses de governo. O programa de Governo, o mesmo com que o PS se apresentou a eleições, é um conjunto de chavões consensuais para os quais não se apresentam propostas, nem metas de execução. Este é o programa de quem quer Continuar a Empurrar com a barriga os problemas concretos do país.

Fiel ao lema Continuar a Avançar, o que vamos sabendo do Orçamento do Estado é exatamente o que já sabíamos. O documento é, no essencial, igualzinho ao que nos foi apresentado em outubro. Na altura em que foi chumbado pelo Parlamento. Na estreia parlamentar desta legislatura, António Costa bem notou ao conjunto dos seus opositores, todos derrotados a 30 de janeiro, que os portugueses querem mais do mesmo. Será que foi isso ou que, não vendo alternativa, preferiram jogar pelo seguro? Será que daqui a quatro anos e seis meses, com uma guerra pelo meio e o país na cauda do pelotão europeu, valeu a pena Continuar a Avançar com António Costa?

Os vencedores costumam trazer consigo uma força motora e inspiradora que entusiasma e mobiliza. Na política nacional temos mais esta originalidade: o que o grande vencedor das eleições tem para nos propor é continuar a percorrer exatamente o mesmo caminho. Se a nossa situação fosse boa, se não estivéssemos a ser ultrapassados por cada vez mais países da União Europeia, se tivéssemos um poder de compra semelhante à maioria dos países europeus, se tivéssemos uma economia dinâmica e uma sociedade criativa…se tivéssemos tudo isto seria muito mobilizador Continuar a Avançar. Mas a verdade é que no caso português, casar a palavra Continuar com a palavra Avançar só nos pode trazer más notícias.

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Se continuarmos a fazer de conta que não temos um problema demográfico, um problema na educação, um problema na saúde, um problema de estrangulamento da economia, um problema na justiça, o nosso destino não vai ser brilhante.

Se Continuar a Avançar significa que vamos fazer de conta que não temos que fazer nada de diferente depois de dois anos de pandemia e sabe-se lá quanto tempo de guerra na Europa, só vejo um avanço possível: o avanço para o abismo.

Faria bem ao Primeiro-Ministro revisitar um célebre discurso de Abraham Lincoln: “É possível enganar algumas pessoas todo o tempo; é também possível enganar todas as pessoas por algum tempo; o que não é possível é enganar todas as pessoas todo o tempo”.

A bem do país sugiro ao governo que desista de “continuar” e comece a pensar como vai “avançar”.