Um dia destes, ao ver o meu correio electrónico, fui surpreendido por esta notícia, editada às seis e trinta e três da manhã: “Após toda a especulação envolta na alegada separação de Sandro Silva* e Soraia Marques*, o pasteleiro decidiu reagir pela primeira vez ao burburinho que se faz sentir na imprensa cor-de-rosa. Na madrugada desta sexta-feira, Sandro recorreu às redes sociais para deixar uma mensagem aos fãs: ‘Bom descanso para todos! Não gastem dinheiro em revistas que escrevem mentiras. Obrigado a quem está comigo. Estamos juntos’, lê-se num InstaStory. De referir que a mensagem do antigo concorrente da Casa dos Segredos veio na sequência de” duas vedetas televisivas “terem sido associadas como causas da separação” (Notícias ao minuto).

Anda o mundo preocupado com a guerra na Síria, com os refugiados, com o terrorismo islâmico, com a Venezuela, com o Putin, com os fogos, com o brexit, com o Trump, com a Coreia do Norte, com a Europa e outras ninharias quando, afinal de contas, o que interessa é saber como vão as coisas entre o pasteleiro Sandro e a blogger Soraia! Ainda bem que existe uma publicação que, como a Notícias ao minuto, nos põe a par do que realmente interessa à humanidade. Já não era sem tempo!

Confesso que, antes de ler esta notícia, ainda não me tinha apercebido de “toda a especulação envolta na alegada separação”! Ou seja – admito-o humildemente – é crassa a minha ignorância cor-de-rosa! Não sabia que estava para acontecer uma “alegada separação” ou que já constava o alegado rumor da “alegada separação” da blogger e do pasteleiro! Também não dei conta, por incrível que pareça, do “burburinho que se faz sentir na imprensa cor-de-rosa”. Mas reconheço que as insinuações auditivas (burburinho) e cromáticas (cor-de-rosa) são de uma rara erudição.

Uma palavrinha de agradecimento ao pasteleiro, pelo seu muito generoso e universal ‘requiescant in pace’ – isto é, “bom descanso para todos” – mas em língua vernácula, porque para mais não dá, decerto, a sua instrução culinária. Serão estas universais condolências o reconhecimento de que o ridículo também mata?! Também fico grato ao Sandro pelo seu inestimável serviço de coaching financeiro: “não gastem dinheiro em revistas que escrevem mentiras”.

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O pasteleiro concluiu a sua breve mensagem agradecendo a quem estava com ele naquele momento. Não se sabe quem era, mas nessa notícia fez-se constar o facto de duas conhecidas estrelas da televisão “terem sido associadas como causa da separação” (sic). Mas, … honi soit qui mal y pense! Não se macule, nem sequer com ignominiosas suposições, a imaculada honra dessas damas em misteriosa ‘associação’ porque, a essa hora matutina, o pasteleiro desmentiu os alegados rumores da sua alegada separação, assegurando aos seus inconsoláveis fãs que a união com a bloggerse mantinha firme: “Estamos juntos”!

Mas isto era às 6h e 33m da manhã – hora de mau agoiro: 666 é o número da besta! – sobretudo para  quem dormiu mal, nomeadamente por passar a noite a mandar InstaStories aos fãs. A verdade é que nesse mesmo fatídico dia, que não em vão era sexta-feira, “Notícias ao minuto”, pelas 19h, alertou o planeta com uma notícia bombástica: “Sandro Silva e Soraia Marques confirmam separação em comunicado”! Brutal! Simplesmente devastador!

Mas, como foi possível que o “estamos juntos” das 6h se tenha convertido no “estamos separados” das 19h?! Que aconteceu naquelas fatídicas 13h, que é, por sinal, um muito aziago número?! Para melhor compreender este mistério, que deixou suspensa a humanidade, importa ler o ‘comunicado’ que a bloggerpublicou nas redes sociais e que o pasteleiro reproduziu: “Eu e o Sandro, agradecemos o carinho de todos os que fizeram parte deste capítulo. Vivemos momentos muito felizes ao longo destes cinco anos mas, como em todas as relações, existem altos e baixos. Estamos separados e a iniciar um novo ciclo das nossas vidas”. (Nota à margem: a vírgula, entre o sujeito e o verbo, é uma liberdade poética da blogger, que o pasteleiro reproduziu e que se respeitou nesta transcrição ipsis verbis do comunicado).

Depois de escarrapacharem nas redes sociais e na imprensa – que, à conta de tanto lixo, há muito que já não é cor-de-rosa – as suas inconfessáveis confidências, estes ‘famosos’, como é da praxe, fazem um pungente apelo ao respeito pela intimidade, vá-se lá saber o que isso seja. Com efeito, “Sandro e Soraia pediram privacidade e respeito pelo momento delicado que estão a viver. ‘Como assunto sensível que é, pedimos respeito e compreensão de todos’, pode ainda ler-se no comunicado” do ‘assunto’ Sandro e da ‘assunta’ Soraia.

Fazendo minha a simpática atitude de ambos, também queria agradecer a “todos os que fizeram parte deste capítulo”, nomeadamente os verbos, os substantivos, artigos definidos e indefinidos, adjectivos, advérbios, pontos e vírgulas: sem eles, este texto, que também tem altos e baixos, não teria sido possível. Aproveito para anunciar aos meus fãs a minha alegada separação deste ‘assunto sensível’, em que vivi também momentos muito felizes.

A terminar a penosa leitura desta sofrível crónica, modesta homenagem à silly season e ao jornalismo social, desejo a todos os leitores que meritoriamente passaram por tão dolorosa experiência, “um novo ciclo” nas suas vidas. Para alguns, como o Sandro e a Soraia, será já um biciclo, senão mesmo um triciclo!

Moral desta história imoral: não pode ser respeitado quem não se dá ao respeito. Se os próprios fazem publicidade das suas relações afectivas, não podem depois pedir reserva sobre a sua privacidade. Com certeza que os protagonistas desta história são excelentes pessoas, mas foram vítimas da sua ânsia de ‘fama’ a qualquer preço, bem como de uma certa imprensa que, em vez de destacar o que tem valor e interesse porque contribui para o bem comum, se entretém com o que é ridiculamente fútil.

* Nomes fictícios, com as minhas desculpas para todos os verdadeiros Sandros e Soraias, Silvas e Marques. Qualquer relação com nomes ou personagens reais, mais do que uma infeliz coincidência, é um azar dos diabos! Aviso para todos os que tiverem o mau gosto de serem meus fãs: não liguem aos rumores da minha ‘alegada separação’, que eu cá sou alegadamente sozinho, graças a Deus!