Ao sétimo Orçamento transformou-se num conjunto vazio a interseção dos objectivos do PS, do BE e do PCP. Mesmo com mais dinheiro, e à borla, a estratégia de dar com uma mão e tirar com a outra esgotou-se, como acabaram as medidas do tempo da troika que os socialistas aceitavam reverter. O PCP e o BE deixaram de conseguir fingir que não reparavam nos cortes na despesa que não se via e quiseram ir mais longe no virar a página, neste caso, do tempo da troika. E o PS deixou de poder conciliar o seu compromisso de redução do défice público com as cativações e as reversões. E o primeiro Orçamento de um Governo legitimado pelo voto prepara-se para ser chumbado dia 27 de Outubro de 2021. Com eleições antecipadas no horizonte.

O PCP anunciou o seu voto contra a proposta de Orçamento do Estado para 2022 nesta segunda-feira, dia 26 de Outubro, depois de o BE ter feito o mesmo no domingo, dia 25. Nos dois dias o Governo fez questão de apresentar também a sua versão do que se tinha passado, acusando implicitamente o BE de ter sido intransigente – ou eram as suas nove medidas ou nada – e o PCP de não ter reconhecido que nunca tinha o Governo cedido tanto ao que lhe foi pedido. E assim, um dia antes de os deputados se reunirem para debater a proposta do Orçamento do Estado ficámos a saber que, com elevada probabilidade, seria chumbado, o que é igualmente inédito.

Como têm sublinhado os analistas políticos, o muro entre o PS e o PCP e BE não desapareceu, como se chegou a antecipar. Foi é criado um espaço, até ao muro, pelas políticas do ajustamento financeiro de 2011 a 2015. E com as sucessivas medidas foram-se aproximando do muro que nenhum moveu, nem quer saltar. Podia ter acontecido mais cedo se não fosse a pandemia. Vê-se aliás pela avaliação que o actual ministro das Finanças faz dos seis processos negociais: os primeiros dois orçamentos, ainda na era da Gerigonça, foram os mais fáceis. Unia-os medidas que queriam reverter, como o corte de salários da função pública. A seguir começou a ser cada vez mais difícil. O que há para “reverter” entra em princípios e valores de uma sociedade que choca com o modelo dos socialistas, pelo menos da maioria deles.

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