É comum distinguirmos os partidos entre esquerda e direita. É dessa forma que se posicionam no Parlamento: o mais à direita do lado direito do Presidente da Assembleia até ao mais à esquerda, sentado no lado oposto. Mas há outra distinção que é entre socialistas e liberais. Esta foi ignorada até muito recentemente porque não havia partidos liberais em Portugal. Os partidos eram socialistas, numa graduação que ia do comunismo à social-democracia. O CDS era democrata-cristão, mas a democracia-cristã foi uma maneira de a Igreja, através do estado, se adaptar à necessária correcção de certas injustiças e ainda a forma encontrada para confrontar a força política dos socialistas não crentes.

A partir do momento em que a IL surgiu no Parlamento, a simples distinção entre esquerda e direita  deixou de fazer sentido. Não é que não seja importante, que o é. Continuam a existir partidos de direita e partidos de esquerda. Simplesmente deixou de ser a única forma de distinguirmos os partidos em Portugal. Estes são de esquerda ou de direita, como também são socialistas ou liberais.

Esta nova distinção não deve ser desvalorizada até porque dentro da IL são muitos os que se definem como sendo de direita e outros tantos que se dizem de esquerda. O que os une é o liberalismo porque há liberalismo de esquerda e liberalismo de direita. Tal como há socialismo de direita e socialismo de esquerda.

O que separa a esquerda da direita ‘tout court’ são certos valores, um entendimento do que é certo ou errado e as prioridades de que o estado se deve ocupar. Já o que distingue os socialistas dos liberais é o entendimento de qual deve ser o centro da vida em comunidade. Se um socialista (seja de esquerda ou de direita) coloca o acento tónico no estado, um liberal enfatisa o indivíduo. O que diferencia um socialista de esquerda de um socialista de direita não são tanto os fins, mas os meios, os métodos para alcançar esses fins. E da mesma forma que a maioria dos socialistas não esquece as pessoas, a maioria dos liberais não ignora a importância da comunidade, das instituições, da vida de cada um em conjunto com os demais. A diferença coloca-se no ponto cardeal de onde parte o resto. Um socialista quer que o estado indique o caminho enquanto um liberal pretende que as pessoas o possam escolher em liberdade.

Com base nesta distinção (aqui traçada em termos muito genéricos) podemos concluir que entre os partidos portugueses com assento parlamentar encontramos os de esquerda socialista que vão do PCP, Bloco e Livre até ao PS, seguidos dos da direita socialista (ou social-democrata, conforme prefiram) que são o PSD e o Chega. Entre os liberais enquadra-se a IL que não tende a definir-se de direita ou de esquerda, pois engloba as duas correntes liberais que até agora não tinham representação partidária. Em tempos idos houve algumas tentantivas dentro do PS e do PSD para que estes partidos representassem a esquerda liberal, mas que não obtiveram projecção mediática e que se ficaram por uma diminuta relevância política.

Um dos fenómenos mais interessantes nas últimas eleições foi que a palavra liberalismo deixou de ser um palavrão. Ainda há dias Rui Tavares declarou que o problema da IL residia não em ser liberal, mas em não ser suficientemente liberal. Depois de já ter ouvido ex-comunistas definirem-se de sociais-democratas não me espantaria que, num futuro que pode nem ser assim tão longínquo, os que actualmente se dizem socialistas se venham a revelar adeptos da esquerda liberal. Tratar-se-ia da evolução normal de um processo de amuderecimento democrático e de recuperação de algumas raízes históricas que, infelizmente, ficaram esquecidas.

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