As crises múltiplas que afetaram o mundo nos últimos três anos tiveram um impacto especialmente dramático nos mercados emergentes. É importante encontrar novas formas de reforçar a resiliência económica e social destes países, por eles, mas também por nós.

O principal contributo para a redução da pobreza mundial nas últimas décadas foi o desenvolvimento do comércio internacional e, mais recentemente, a integração da China na Organização Mundial do Comércio. Mas a trajetória ascendente desde os anos 80 no comércio de bens estagnou desde a crise financeira de 2007-2008. É certo que os dados sobre os serviços são mais animadores, mas existe uma clara tendência, aliás explícita em medidas de política de vários países e regiões, incluindo dos Estados Unidos e da Europa, de dar a prioridade à segurança do abastecimento, mesmo que seja em detrimento das relações comerciais. Este é um dos temas da reunião do G7 este fim-de-semana no Japão, com particular incidência sobre a forma como lidar com as relações comerciais com a China.

Mais recentemente, a pandemia e a guerra na Ucrânia acrescentaram novos desafios para os países emergentes. O pára-arranca da pandemia teve um efeito negativo na base das cadeias de abastecimento globais, que estão tipicamente localizadas em países em desenvolvimento, enquanto a guerra na Ucrânia acentuou a inflação global, aumentando os riscos alimentares nos países mais pobres.

Do ponto de vista financeiro, estes países também têm sofrido com o aumento das taxas de juro nos Estados Unidos. Com efeito, segundo os dados do Institute for International Finance, a pandemia e a guerra aumentaram o valor da dívida dos países emergentes para um recorde de 100 biliões de dólares, e os custos dessa dívida também estão a subir com o aumento dos juros e a valorização do dólar.

A maior instabilidade económica e financeira dos países em desenvolvimento tem um impacto direto nos países mais avançados. Na Europa sabemos que a instabilidade nas fronteiras reforça partidos que usam as migrações como elemento de combate político. Nas votações sobre a Ucrânia nas Nações Unidas os países mais dependentes de investimentos chineses, tendem a votar também com a China, o que enfraquece a posição dos países do G7. Por fim, a instabilidade política e económica nos países emergentes, que têm muitas vezes acesso a matérias-primas energéticas, incluindo metais e terras raras que são cruciais para a transição energética, representam até um risco para a segurança energética dos países mais avançados.

No longo prazo, o protecionismo crescente nos países desenvolvidos pode ter, não só um efeito humanitário dramático nos países em desenvolvimento, como afetar o próprio crescimento económico dos países avançados.

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