O passado Português é repleto de grandes feitos de navegação! E tal só foi possível devido à Caravela Portuguesa… Rápida e esguia, resistente e resiliente, de fácil e de rápida manutenção, e, acima de tudo, capaz de navegar “contra o vento”. De um modo resumido, a nossa Caravela era uma evolução dos navios que na altura existiam, que os portugueses simplificaram, tornaram mais leves e equiparam com as ferramentas que lhes permitiram fazer diferente, fazer melhor. Conseguimos assim enfrentar grandes desafios, enormes tempestades e muita incerteza, porque nos preparámos melhor que os outros. Conseguimos chegar mais rápido do que os outros, com menos custo do que os outros e fomos mais longe do que os outros.

Passados 500 anos, o que nos sobra desta herança? Apenas uma coisa, a capacidade de navegar contra o vento. Aliás, somos tão bons a navegar contra o vento, que mesmo quando temos ventos a favor, nos colocamos contra! Se mesmo assim não estivermos suficientemente contra, adicionamos lastro. Temos o vício da dificuldade. Aquilo que é uma ferramenta, que em tempos difíceis nos permite atalhar caminho e seguir em frente quando todos andam para trás, nós aceitámos como modo de vida, como nosso fado, como a nossa certeza!

Começámos por aproveitar um vendaval a nosso favor, o “vento europeu”, para sairmos de um passado recente profundamente pobre e triste. E o que fizeram os capitães das nossas caravelas? Enquanto navegavam confortavelmente com ventos a favor, colocaram lastro nos nossos navios. Se por um lado evoluíram a nossa caravela e reforçaram alguns pontos estruturais essenciais, noutros simplesmente acrescentaram efeitos que apenas colocam peso e dificuldades à navegação. Vejamos o exemplo da infraestrutura rodoviária… Foi um verdadeiro vendaval que nos impulsionou para a frente enquanto País! Que permitiu ligar os portugueses de Norte a Sul, que ajudou a dinamizar a nossa economia e as nossas vidas. E o que fizeram os nossos capitães? Adicionaram lastro. Não bastou desenvolver as vias essenciais, aquelas que a médio e longo prazo trariam o proveito e o retorno necessário para se autossustentarem. Foi preciso pintar o País de autoestradas, muitas ainda hoje praticamente vazias, todas com um custo enorme de manutenção para os contribuintes atuais e futuros!

Desde que entrámos neste século que estamos praticamente estagnados! Nos primeiros 10 anos não fizemos mais nada que não fosse acrescentar lastro. Pouco reformámos, pouco modernizámos. Mesmo com os fundos Europeus, a única coisa que cresceu consideravelmente em Portugal neste período foi a dívida pública! Ou seja, enquanto os ventos estiveram a favor, recostámo-nos, acrescentámos lastro ao navio, e vivemos de luxo e tranquilidade em alto mar. Foi então que veio a crise. Vieram os ventos contra. E nesse momento o que tínhamos em mãos era uma caravela cheia de pesos mortos, cheia de gorduras desnecessárias, com ferramentas antigas e ultrapassadas, que por fora era bonita, mas que por dentro estava profundamente degradada. No meio da tempestade de dívida em que nos encontrámos, não conseguimos navegar nem contra nem a favor do vento, tal o peso do nosso navio.

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Mais uma vez, quando estávamos a ir ao fundo, pedimos ajuda à restante frota Europeia, que novamente nos veio salvar. Quando chegou novamente essa frota, que já outras vezes tinha vindo em nosso socorro, vendo que os nossos capitães cometiam sempre os mesmos erros, obrigou-nos a aceitar “fazer diferente” em contrapartida de nos salvar. Obrigou-nos a tirar os extras do nosso barco, a retirar o peso dos lastros que nos puxava sempre para o fundo… Obrigou-nos a melhorar a estrutura da nossa Caravela, e a retirar o peso que nos impedia de manter à tona e a torná-la navegável para o futuro. É importante não esquecer, que apesar da tempestade ter afetado a frota toda, apenas alguns navios estavam a afundar. E nós fomos um dos poucos, que mais numa vez, não conseguiram sobreviver sozinhos.

Neste período, não só preparámos a Caravela para voltar a ser navegável, como criámos as condições para que voltasse a navegar mais rápido do que as outras. Mas foi então que terminou a tempestade. Voltaram os mares calmos e os ventos a favor! E o que fizemos nós Portugueses? Voltámos aos capitães do costume! Voltámos a enfeitar a Caravela com pesos mortos que nos impedem de navegar. Quanto todos navegavam calmamente e em boa velocidade, nós colocámo-nos contra o vento e avançámos devagar, perdendo o comboio e sendo ultrapassados por alguns que tendo aprendido há pouco tempo a navegar nestas águas, estavam focados em chegar rapidamente à frente da frota e serem também eles os primeiros a chegar!

Estes capitães do costume fizeram os erros do costume. Ao invés de tirarem o estado de cima da vida dos portugueses, meteram ainda mais estado a pesar nas suas costas! Ao invés de simplificarem, desburocratizarem, modernizarem, acrescentaram cada vez mais camadas de complicação em cima da vida das pessoas e das empresas. Em vez de reduzirem a dívida que nos impede não só de aproveitar os ventos a favor como de navegar quando os ventos estão contra, aumentaram-na. No tema dos impostos a questão ainda é mais gritante! Se por um lado estes capitães repetem exaustivamente que os baixaram, a realidade é que a carga fiscal aumentou. O pouco que diminuíram os impostos sobre o rendimento, foi sobejamente compensado por outros que entretanto cresceram, por exemplo, pelo brutal aumento da receita fiscal proveniente dos impostos sobre os combustíveis.

Foi então que contra todas as previsões, surgiu novamente uma enorme tempestade! Se os ventos do turismo, eram aqueles que mais visivelmente faziam a nossa caravela avançar, nesta tempestade foram os primeiros a desaparecer! E no fim, lá estávamos nós novamente a viver o mesmo fado de sempre, enfiados numa tempestade enorme e com o nosso pesado navio a afundar. Da Europa vieram novos ventos, batizados de “bazuca”. Este batismo foi feito por alguém que, ao invés de ficar triste por depender de terceiros para sobreviver, ficou feliz quando mais uma vez lhe entregaram a esmola! E o que se prepara para fazer com essa esmola? Novamente para fazer o que sabe fazer. Criar mais lastro! Aumentar o peso do estado na vida dos portugueses, nacionalizar empresas falidas, criar mais infraestrutura desnecessária, mais investimento público.

Está na altura de mudar de capitão! Está na altura de mudar as velas que nos impulsionam! Basta olhar para essa Europa fora para se perceber a receita. E ela é tão simples! Basta libertar a economia e as pessoas do peso do estado. Os países com os mais fortes e eficientes estados sociais são, ao mesmo tempo, aqueles que têm mercados mais livres, sistemas fiscais mais descomplicados, governos mais leves e ágeis. É nestas economias geradoras de riqueza, que estão os melhores sistemas de saúde, sistemas de pensões, sistemas de ensino, os maiores ordenados e a maior qualidade de vida! Também é nesses países que há menos pobres, menos filas de espera, menos dificuldades para os jovens iniciarem a sua vida profissional. Aliás, basta ver para onde vão os nossos marinheiros quando querem efetivamente navegar! E estes países têm todos uma característica comum, todos têm economias fortemente liberais! Todos têm sistemas fiscais simplificados! Todos têm governos com menos peso sobre os contribuintes! Todos têm reguladores fortes e efetivos! Todos têm mais liberdade política, económica e social! Todos têm menos estado!

Nós, os Portugueses, sabemos bem qual é o caminho, é o mesmo que usámos há 500 anos atrás. Temos que tornar novamente a nossa Caravela, mais leve, mais ágil, mais rápida… Temos que criar as fundações para que todos os que a queiram usar para navegar, sintam vantagem em ter nas mãos um navio que os ajuda a chegar mais longe, mais rápido e mais eficientemente que todos os outros. Temos que tirar o lastro do nosso navio, temos que libertar as velas aos ventos favoráveis para que possamos progredir mais rápido que todos os outros. E assim como no passado, quando surgirem os ventos contra e as tempestades, ao contrário de muitos outros, nós possamos continuar a avançar!