Poucos de nós esperavam que o novo coronavírus se espalhasse da maneira sem precedentes como tem ocorrido. As razões desta realidade são de diversa ordem e têm sido já largamente debatidas, com base nas características do vírus SARS-CoV-2, nas debilidades de planeamento e prevenção dos estados, bem como na falta de cuidados por parte das populações.

Em todo o caso, há que ultrapassar este momento difícil e olhar para o futuro. A pandemia vai, certamente, mudar os nossos comportamentos e a nossa forma de viver.

É reconhecido que a poluição do ar, em especial nas áreas urbanas, causa graves os danos à saúde humana. De facto, os resultados de estudos recentes apontam para que a exposição dos seres humanos à poluição atmosférica seja suscetível de danificar a generalidade os órgãos e, praticamente, todas as células do corpo. Os resultados demonstram um número anual superior a 8 milhões de mortos devido à poluição do ar, em todo o mundo, bem como o crescimento de casos de demência, doenças cardíacas, pulmonares e neurológicas e problemas de fertilidade.

Este tem sido também o entendimento da Organização Mundial de Saúde, que considera a poluição atmosférica como uma “emergência de saúde pública”, concluindo que mais de 90% da população global respira ambientes tóxicos, mesmo quando se encontra ao ar livre. Foi o próprio diretor-geral daquela organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que em 2018 considerou a poluição do ar como “o novo tabaco”, alertando para a necessidade de um forte combate à poluição.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Por conseguinte, esta realidade acaba, naturalmente, por reduzir a imunidade das populações a uma crescente quantidade de vírus e epidemias, aumentando a taxa de mortalidade por infeções respiratórias, como é o caso da Covid-19. Até porque, para além dos casos em idade avançada, várias doenças (em especial crónicas) são também apresentadas pelos especialistas como fatores de risco para esta epidemia.

Na verdade, a pandemia que vivemos nos dias de hoje tem vindo a obrigar as populações a ficarem confinadas nas suas casas, sendo necessário recorrer-se a soluções como o teletrabalho (nas empresas e entidades públicas) ou o e-learning (nas escolas e universidades). Os rápidos efeitos na atmosfera de toda esta mudança de paradigma são agora visíveis nas imagens divulgadas pela NASA e pela ESA, relativamente à China e também ao território italiano.

Acresce que o chamado lockdown provocou na realidade chinesa uma forte redução no consumo de carvão. A relação entre todas estas variáveis é, portanto, clara no que respeita aos comportamentos humanos e aos seus efeitos na atmosfera do planeta.

Importa ainda adicionar a todos estes fatores a própria redução dos movimentos pendulares (o chamado commuting) por meio de automóvel ou de outros veículos a combustão, bem como dos voos e movimentos nos grandes aeroportos. Hoje a imensa maioria dos nossos carros está parada à porta de casa e os voos têm vindo a ser suspensos ou cancelados por todo o mundo.

Enquanto esperamos por antídotos ou vacinas para combater o novo coronavírus, este duro momento que todos passamos (e tentamos ultrapassar) está, obrigatoriamente, a mudar a forma como sempre vivemos até aqui.  Está a mudar os nossos horários, os processos e métodos de trabalho, de estudo e de investigação, de relação com as empresas e com as entidades públicas e a forma como elas funcionam, se organizam e se interrelacionam também.

A tecnologia e a inovação assumem aqui um papel essencial. Fisicamente, estamos mais próximos da nossa família nuclear, mas mais longe dos outros familiares, amigos e colegas. Utilizamos mais o telefone, o e-mail ou as plataformas eletrónicas. Falamos e reunimos por Skype, Zoom ou Teams… Fazemos tudo à distância. Ainda mais do que fazíamos antes.

Haveremos de voltar a sair de casa. Mas tudo poderá ser diferente. Não sabemos ainda se nos habituaremos a esta nova forma de vida, depois do vírus. Passaremos a planear mais, a ser mais eficientes, a dar mais atenção ao que realmente importa, a poluir menos e a preocuparmo-nos mais com a nossa saúde e a dos outros?

Esperemos que sim. A bem de todos nós e das próximas gerações.