Esta semana o Fórum Económico Mundial divulgou uma análise dos principais riscos para 2020, na publicação que antecede a reunião anual em Davos. E no top cinco só refere riscos ambientais: fenómenos climáticos extremos, incapacidade de ação para melhorar o clima, desastres naturais, perda de biodiversidade e desastres naturais provocados pelos homens. A mensagem tem a vantagem de ser muito clara. Mas existe também o risco de tratar a emergência climática como se fosse um problema à margem da racionalidade económica, o que é inverosímil e até contraproducente.

As preocupações ambientais não são exatamente recentes, mas no passado foram ligadas a eventos e factos pontuais. É o caso, por exemplo, do efeito do desastre de Chernobyl sobre o desenvolvimento da energia nuclear, ou da eliminação do chumbo nos combustíveis rodoviários quando se tornou claro que existiam efeitos diretos nos seres humanos resultantes da acumulação de metais pesados. O que distingue a mais recente preocupação com o ambiente é a compreensão de que existe um impacto estrutural da ação humana no seu ambiente com efeitos no clima, na biodiversidade, no acesso aos recursos naturais, e consequências negativas para a vida humana. E que esses efeitos têm consequências cada vez mais visíveis e trágicas, como é o caso dos desastres naturais, o que intensifica o sentimento de urgência.

A tentação é responder com mais regras e legislação. Por exemplo limitando ainda mais as emissões de carbono e penalizando fiscalmente as indústrias mais poluentes. E esse é um caminho que poderá ser inevitável. Com efeito um dos papéis importantes da intervenção do Estado é trazer para o para o mercado o custo das consequências negativas (externalidades) das atividades económicas, como é o caso da poluição.

Mas a forma mais rápida, eficiente e duradoura de proteger o ambiente passa pela ação livre dos mercados, através das preferências manifestadas pela procura. Se as preferências das famílias e das empresas foram cada vez mais “verdes” também os produtores serão mais “verdes”. A transição energética e a proteção do ambiente vão necessitar de inovação, de financiamento para a investigação fundamental e aplicada, e de liberdade de movimento de pessoas e capitais (mais globalização) que permita a troca de ideias e a partilha de tecnologias.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Continua a existir um papel fundamental para os Governos, sobretudo no apoio à investigação fundamental e apoio social aos que virem os seus meios de subsistência diminuídos pelas transformações do tecido económico. São esses os princípios que motivam o “Green Deal” anunciado esta semana pela Comissão Europeia, embora a sua aplicação tenha de ser cuidadosa para não transformar o período de transição numa transferência permanente de rendas para indústrias mais poluentes.

Mas os mercados são naturalmente o espaço privilegiado de financiamento para a investigação aplicada e para a partilha de tecnologias. Para lá de toda a retórica, seguramente sentida, do CEO da Blackrock, o maior investidor institucional mundial, sobre a importância de preservar o ambiente, é seguramente sobretudo a procura e preocupação climática dos seus clientes, a emergência de novas tecnologias que associam alto rendimento e reduzida pegada ecológica que o conduziu a anunciar um plano de redução dos investimentos em tecnologias poluentes. Outro sinal importante de que os mercados entenderam o potencial de lucro “verde” é a miríade de índices “verdes” que foram criados para investimento em bolsa, por exemplo, FTSE Environmental Markets Index Series, MSCI Global Clean Technology Index, Nasdaq Clean Edge Green Energy Index, The Cleantech Index, S&P/TSX Renewable Energy and Clean Technology Index.

Se virmos o ambiente como um bem que é desejável em si e não um sacrifício, se dermos hipótese ao mercado de ser guiado pela preocupação com o lucro para investir em novas tecnologias e evitarmos os entraves ao comércio internacional e ao movimento de pessoas bens e capitais, então teremos mais hipótese de sucesso.