Na sessão solene deste domingo, dedicada à celebração dos 47 anos pós-25 de Abril, ficaram vincados dois temas prioritários: o combate à corrupção e a consolidação e reforço democrático.

A verdade é que o mundo de hoje é significativamente diferente do de 1974. As pessoas tinham prioridades diferentes. A tecnologia e o planeta eram diferentes. E isso faz também com que o debate público seja distinto. Faz com que, tal como o Presidente da Assembleia da República referiu durante a sessão, se exija um maior e mais constante envolvimento com os cidadãos, e particularmente dos mais jovens.

Por um lado, e se analisarmos os estudos do European Social Survey entre 2002 e 2018, desenvolvidos em vários países europeus, verificamos que o interesse pela política por parte dos Portugueses está entre os mais elevados da Europa, sendo notório o interesse dos segmentos mais jovens, entre os 18 e os 34 anos. Por outro lado, verificamos, que no contexto das democracias ocidentais, se tem assistido a um gradual e continuado declínio da participação eleitoral em geral, sendo crescentes e preocupantes os níveis de abstencionismo eleitoral entre os mais jovens.

Ora, a defesa e, sobretudo, o reforço da qualidade da democracia, só se faz com educação política e com um combate efetivo à desinformação que assola os nossos dias. E isto é um imperativo democrático, porque não são apenas casos espalhafatosos como o da Operação Marquês que fazem com que os jovens percam a confiança nos partidos políticos e na democracia como um todo.

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Em muitos casos, é a iliteracia política e a falta de representação política dos segmentos mais jovens, tanto em termos descritivos como substantivos, e a falta de capacidade de influência exercida sobre os decisores políticos, que faz que exista um afastamento dos jovens relativamente à política.

A promoção da igualdade política, traduzida no princípio de “uma pessoa, um voto”, atribui ao voto jovem uma importância acrescida, porque é através do voto que o nivelamento da representação política dos vários segmentos populacionais (de um ponto de vista demográfico e geográfico) pode ser alcançado. O voto é, portanto, um instrumento de igualdade política e de reforço da representação democrática dos mais jovens.

Para além disso, o envolvimento dos jovens e a sua participação cívica nunca foram tão necessários como nos dias de hoje, e esses manifestam-se de várias formas, seja através do voto, da participação associativa e voluntária em diversas organizações e associações, indo muito além das juventudes partidárias.

O tema da relação dos jovens com a política ganha hoje uma relevância e urgência acrescidas, uma vez que é da “reconciliação” dos mais jovens com as instituições democráticas e as autoridades políticas que dependerá, em muito, o presente e o futuro da democracia tal como a conhecemos.

Numa época em que comemoramos o 25 de Abril de 1974, devemos celebrar a democracia e a construção do seu futuro e não apenas e só focar nos remendos e no combate ao populismo no presente. Há que aplicar uma visão de médio-longo prazo, em que a sociedade civil deve ocupar uma posição central, porque os mandatos políticos são efémeros. À imagem de várias iniciativas de literacia política desenvolvidas nos países nórdicos, que são comumente referidos enquanto referências democráticas, será uma melhor e maior educação das crianças e dos jovens que fará de Portugal uma sociedade mais democrática e preparada para enfrentar o combate à radicalização e à polarização de políticas.

Porque o debate e a causa política e pública é de todos nós e não só dos políticos. Porque a democracia é frágil, deve ser valorizada e reforçada positivamente e não perpetrada com cravos negros. Porque os jovens terão de ser capazes de primeiro entender a fundo, para depois defender e reforçar os valores da liberdade e da democracia no presente e no futuro.

Diogo Almeida Alves é co-fundador da TippingUp, uma organização inovadora no cruzamento entre media, tecnologia e sustentabilidade e que trabalha com organizações do sector público e privado em projectos de comunicação, educação e investigação, em áreas relacionadas com a sustentabilidade ambiental, sócio-económica, cultural e política. A organização desenvolve projectos sobre temas como o impacto das alterações climáticas nas comunidades locais, ou o aumento da representatividade dos jovens e das mulheres na política. É ainda co-autor do livro Binómio Tecnologia e Sustentabilidade, ex-curador dos Global Shapers do Fórum Económico Mundial para Portugal e Director da Associação Federal Alemã de Sustentabilidade, com uma larga experiência internacional enquanto empreendedor e investidor na área tecnológica, tendo vivido em nove países e quatro continentes.  

O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.