Ao longo destes anos, há já algumas coisas a que o Primeiro-Ministro nos foi habituando. Se há uma que salta à vista, é sem dúvida este estilo de governação ao sabor da corrente. Cada decisão política, cada medida anunciada, limita-se a responder àquela que é a pressão social do momento, sem qualquer estratégia definida, mas sempre bem aconselhada por um qualquer “focus group”.

Foi na sessão de encerramento da Academia Socialista que António Costa anunciou a chegada antecipada do Natal. O Primeiro-Ministro estava imparável. Ele era medida para aqui, desconto para acolá, apoio para este, viagem para aquele… Como numa boa feira popular, não faltavam bons pregões para levar os jovens a comprar, quer dizer, a votar. Mas pelo menos uma coisa o Primeiro-Ministro já conseguiu, um consenso nacional contra as medidas que anunciou.

Desde a devolução do valor das propinas, até descontos no IRS, passando por passes de transportes públicos gratuitos até aos 23 anos e chegando ainda a viagens e férias pagas em pousadas da juventude com direito a um cheque para livros, prometeu-se de tudo um pouco, piscando o olho ao eleitorado mais jovem. Ora, importa analisar como se concretizam na prática algumas destas medidas.

Vamos supor, meramente como exemplo, que o João terminou a sua licenciatura e entrou no mercado de trabalho com 22 anos a auferir 1000€ mensais. Durante o seu percurso académico, o valor das propinas não era algo que o preocupasse significativamente. No entanto, encontrar alojamento e pagar uma renda sempre foi uma grande dificuldade para o João e para a família. Dois meses da renda do João, pagavam as propinas de 1 ano completo do curso.

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Pasme-se que, relativamente a isto, o Primeiro-Ministro nada tem para propor aos jovens e às famílias como a do João. Mesmo sabendo que o maior entrave no acesso ao ensino superior é neste momento o alojamento.

Ainda que empregado, o João continua a depender da família e a morar com os pais, o que o faz pensar, muitas vezes, em emigrar como a única via para poder iniciar o seu projeto de vida.

Alguém acredita que o João deixará de emigrar porque, durante 3 anos, em vez de receber 1000€, vai receber 1070€, pela devolução do valor das propinas que pagou?

Alguém acredita que o João deixará de emigrar, porque até aos 27 anos terá um desconto no IRS?

Então e depois dos 27, ao estar na idade de se emancipar e constituir família? Ou quando até já estiver a pagar o seu crédito à habitação?

Depois dos 27 o João é premiado com a fantástica carga fiscal Portuguesa. A verdadeira prenda no sapatinho que António Costa tem deixado aos portugueses.

Olhando apenas para estas duas medidas, é clara a falta de estratégia do governo e o profundo desconhecimento dos problemas que os jovens portugueses enfrentam.

Quando a maioria dos jovens não encontra um quarto a preço acessível, que lhe permita frequentar o ensino superior, a resposta do Primeiro-Ministro é uma semana de férias numa pousada da juventude.

Convém lembrar que, das 15 mil camas para alojamento estudantil prometidas em 2018, existem até hoje, passados 5 anos, apenas 1000.

Mas há mais.

Como é que um governo que se diz socialista se propõe oferecer passes gratuitos a todos os jovens até aos 23 anos, não olhando a qualquer critério de capacidade financeira?! Se vamos, com o dinheiro de todos, financiar essa medida, não seria socialmente justo que quem tem possibilidades de pagar, fique de fora deste apoio?

Já sobre as 4 viagens oferecidas na CP para conhecer o país, pobre do João se quiser conhecer Trás-os-Montes, onde não há sequer comboio. Talvez o Primeiro-Ministro lhe troque os bilhetes da CP por outros para viajar de autocarro.

Enfim… Um conjunto de medidas avulsas, não pensadas, que não seguem qualquer estratégia racional, que não respondem aos problemas do alojamento ou da elevada carga fiscal sobre os rendimentos e muito menos levarão qualquer jovem a optar por escolher Portugal como base para o seu projeto de vida.

Triste Natal antecipado, este, de António Costa, onde em resposta a milhares de cartas a pedir alojamento, a prenda no sapatinho é uma semana de férias numa pousada da juventude.