A campanha pela liderança do partido mostra que os socialistas se tornaram como os Bourbons. Nada esqueceram, nada aprenderam e, pelo que ouvimos, preparam-se para fazer tudo igual, se os portugueses lhes derem essa oportunidade no próximo ano. Durante os últimos governos socialistas, juntamente com a italiana, a economia portuguesa foi a que menos cresceu em toda a Europa. Pelo contrário, a dívida pública e o défice não pararam de aumentar. Quando o partido abandonou o governo, em 2012, o país estava na bancarrota (o “quase” que muitos analistas utilizam não passa de uma simpatia). Quais foram as lições que os actuais candidatos socialistas retirarm da experiência governativa? Ainda não ouvimos uma sequer. Parafraseando o realizador italiano que a esquerda tanto gosta, digam só uma lição (uma apenas) que aprenderam. E expliquem também o que não voltariam a fazer. Ou fariam tudo igual de novo?

Estas questões fazem sentido porque ainda nada ouvimos sobre o que é relevante para o futuro do país. O António “Bourbon” Seguro diz que quer mais crescimento, acabar com a austeridade e combater a Europa. O António “Boubon” Costa afirma que quer lutar contra a Europa, acabar com a austeridade e “regressar” ao crescimento. Pelo meio, ambos garantem que vão baixar o desemprego, repor os salários e as pensões, e diminuir os impostos. Nem os juízes do Tribunal Constitucional, isolados na sua bolha constitucional, conseguem negar tanto a realidade como os “Bourbons” socialistas.

A disputa pela liderança reduz-se assim a uma questão: qual dos “primos Bourbon” está em melhores condições de fazer o partido regressar ao poder? Mas a redução da disputa eleitoral socialista a um combate de personagens esconde um problema mais profundo: a falência do modelo socialista e a incapacidade de formular uma alternativa capaz de lidar com a realidade pós-crise e simultaneamente de captar os votos dos eleitores de esquerda. O “Estado” terá que diminuir e não há dinheiro para uma política de investimentos públicos que garanta o crescimento económico. A realidade não muda só porque os socialistas regressam ao poder. Perguntem ao PS francês. Sem capacidade para debater políticas adequadas à realidade pós-2012, os socialistas ocupam-se com a discussão sobre qual dos “Antónios” é melhor que o outro “António”. E necessitam de multiplicar os ataques pessoais precisamente porque não conseguem discutir mais nada. E assim vão continuar até ao fim de Setembro. O partido que sempre se orgulhou de discutir “ideias” caiu numa deprimente disputa de ódios pessoais.

O “António” que for escolhido para candidato a Primeiro Ministro não terá um programa de governo, mas sim uma esperança: mudanças de políticas na Europa para Portugal voltar ao passado. Eis o sonho socialista: como resultado da pressão da França, da Itália, e com a ajuda do SPD, o governo alemão aceitaria o aumento da despesa pública (o que os socialistas chamam de “investimento público para o crescimento”). Esperam deste modo que em 2015, a Europa deixe Portugal “regressar” a “2008”. E se uma figura “credível” (estou obviamente a citar outros) como António Costa convencer os portugueses de que “2008” vem a seguir a 2015, raras vezes uma ilusão terá sido tão perigosa.

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A “Europa” nunca aceitará o regresso ao “antigo regime”. Ou melhor, o antigo regime é o escudo. Esta Europa não é para os “Bourbons.” O Primeiro Ministro francês, Manuel Valls, já percebeu e afirmou a semana passada: “se o partido socialista não mudar, arrisca-se a morrer.” Está assim a tentar garantir a sobrevivência do PS francês, enquanto o Presidente Hollande, numa versão actual da “Maria Antonieta”, se entretém com “croissants” ao pequeno-almoço. Conseguirão os nossos “Antónios” perceber o mesmo, ou continuarão presos nas suas ilusões “bourbónicas” e a convencer os portugueses que as eleições serão a porta do regresso ao passado?