Entretanto, chega-se ao cinema. A três minutos das nove. Dum jeito apressado, toma-se um café. Entretanto, ali ao lado, o cheiro das pipocas insinua-se e impõe-se. Suspira-se. Hesita-se. Mas o cheiro, teimoso, entranha-se. E, num impulso, pede-se um balde. “Dos pequenos; por favor…”. Como a diferença entre os baldes menores e o outro, enorme, não é tão grande assim, traz-se o maior de todos. Depois, entra-se na história. Aos bocadinhos. Entre cada mão-cheia de pipocas. Quando se sai, em vez de virmos aliviados, ao sentir vários pedaços de nós arrumados pelas entrelinhas das personagens, está-se empanturrado em milho, óleo e caramelo. Aborrecido. Com a sensação de que a vida também se faz de oportunidades perdidas.

São imensas as pessoas que, a qualquer momento, entre aquilo que me dizem, se descrevem como aborrecidas. Como se o aborrecimento fosse uma bruma que, aos poucos, cresce, se adensa e agiganta. E a vida, entretanto, tivesse deixado de ter uma história. E mais parecesse “milho”, mal-entendidos e muita pressa. Numa amálgama oleosa. Envolvida num doce.

Sempre que o entusiasmo esmorece o aborrecimento mexerica. E ganha espaço. Às vezes, sinto que somos todos muito bons a varrer as nossas “partes fracas” para baixo do tapete. E com isso se fosse tecendo o nevoeiro. E varremos; varremos; varremos… E, a certa altura, estão tantas coisas lá guardadas que se equivalem não a um mas a muitos elefantes. Silenciosos. No meio da sala. Talvez seja com esse silêncio (enorme!) que eles nos recordem que é assim que se tecem as oportunidades perdidas.

Não sei quem inventou a expressão: “partes fracas”. Ou: “não posso dar parte de fraco”. Porque, se olharmos como quem entra por um filme adentro, dar “parte de fraco” é dividir as fragilidades com quem nos torna mais fortes. E nos devolve ao entusiasmo. Dar parte de fraco é reconhecer aquilo que nos falta. Para que, com isso, se descubra tudo o mais que temos.

Quanto mais fugirmos de dar parte de fracos mais “temos” de ser perfeitos. O que nos faz entrar nas histórias aos bocadinhos. E transformar a vida em oportunidades perdidas.

Era muito mais fácil sermos “só” bonitos. Ruidosos! Dando parte de fracos. E prova de fortes.

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