Candeia que vai à frente alumia duas vezes, mas só se estiver acesa. Quem tem uma candeia apagada, como nós, faz bem em andar atrás, para ver onde põe os pés.” (José Meireles Graça)

Século XIV, Alpes: a Europa mergulha na Pequena Idade do Gelo e os glaciares alpinos avançam assustadoramente sobre as aldeias. Era precisa ação e lá ia o padre excomungar o glaciar, que só podia estar possuído pelo demónio.

Sete séculos mais tarde, o pensamento mágico continua com os que acham ter a solução para o clima que queremos: a lei. Com efeito, o grupo parlamentar do Partido Socialista acaba de entregar um projeto de resolução recomendando ao governo que inste a ONU a considerar o clima estável como património da humanidade, não deixando de adornar a ideia com palavreado próprio – intangível, indivisível, exaurível e coisas do género – e de sublinhar o caráter pioneiro de tal desígnio.

Poderiam estes bem-intencionados saber que desejam algo impossível: descobririam que a Terra tem alternado eras glaciares com intervalos mais quentes, que dentro deste intervalo quente que vivemos se têm sucedido períodos frios – o último foi a supracitada Pequena Idade do Gelo – e outros quentes (caso do período romano ou do ótimo medieval, em que as temperaturas eram semelhantes às atuais) e que, mesmo dentro desses períodos, a instabilidade é a norma – podiam até atender a ciência nacional, caso dos trabalhos da professora Alcoforado para séculos passados, mostrando anos secos e anos húmidos, anos frios e anos quentes.

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Mas…

Numa altura em que os preços dos combustíveis não param de subir e se discutem margens esquecendo que dois terços são impostos (incluindo aquele cuja retirada foi uma promessa não cumprida).

Numa altura em que se finge admiração com despedimentos previsíveis?

Numa altura em que a Alemanha junta mais uma às suas já 83 centrais a carvão.

Numa altura em que se encontra em consulta pública a exploração de lítio.

Numa altura em que os Estados Membros da UE se reúnem preocupados com a escalada de preços da energia.

Numa altura em que o governo discursa no estrangeiro publicitando negócios privados.

Numa altura até em que as principais preocupações dos portugueses são outras (1º economia, 2º saúde, 3º emprego).

Será que queriam mesmo saber?

Provavelmente não.

Afinal de contas, que interessa se o objetivo é impossível quando é nobre? Interessa sim – porque tudo isto são interesses – legitimar o plano de negócios estabelecido: debater Lítio ou Eucaliptos? Hidrogénio? Painéis solares? Biomassa? Se é para proteger um património que é de todos, mesmo quando, como no Barroso, se ameaça património que também é de todos? Não há discussão! E menos ainda interessa o que os portugueses pensam, se os mandachuvas querem estes só têm que pagar a conta e fechar o bico, quem não o fizer é logo rotulado de negacionista – como Rio já foi, veremos agora o que dirá perante este compromisso que o PS diz querer alargado a todo o espectro político.

E, desde o Ministro do Ambiente que nem o número de impostos, taxas e taxinhas que cobra sabe dizer, até aos que perdem o emprego, passando pelos que vivem sem conseguir pagar as contas, aos animais e ecossistemas dizimados por painéis solares ou barragens, às paisagens esburacadas, etc. a conta não só não é pequena como – porque nos dizem que cada vez pior – a tendência é aumentar.

Paradoxalmente, em entrevista à BBC, a menina Greta Thunberg saiu-se com esta: “ao pagar impostos já está a contribuir para a degradação ambiental”.

Senhores “salvadores da humanidade”, vejam lá se se entendem, porque nós queremos acreditar tanto na chuva ou no frio a pedido ou na multa à trovoada, tanto como vocês acreditam no Pai-Natal.