A Pandemia pela COVID-19 está longe de terminar. E por isso impõe-se a proposta de um Plano Estratégico para que possamos olhar para 2022 com otimismo realista.

De facto, e olhando para as recomendações dos peritos na última reunião do Infarmed podem extrair-se várias conclusões. Em primeiro lugar que é urgente tomar medidas para conter esta 5ª vaga, medidas aliás razoáveis e que emanam do senso comum. Passar a usar novamente a máscara em determinados espaços públicos, manter a distância social, arejar os espaços fechados, garantir a qualidade do ar respirável, implementar medidas especiais nas escolas e nas residências de terceira idade, promover a testagem em massa e a auto- testagem, entre outras, são medidas bem-vindas e que devem ser implementadas de imediato.

Mas também se percebe que não são suficientes. É necessário ter um olhar alargado sobre o sistema de saúde, quer no SNS quer na sua interação com os operadores privados e sociais. Por isso, sugiro uma mudança de paradigma nas reuniões de peritos que ocorrem no Infarmed onde a lógica deve evoluir para uma visão global das políticas de saúde, e não exclusivamente centrada na saúde pública. Com base em três princípios norteadores: a) planeamento e prospetiva; b) reforço da logística operacional; e c) visão estratégica do conjunto do sistema de saúde.

Por exemplo devia estar já a programar-se a vacinação em massa de toda a população portuguesa, incluindo as crianças a partir dos 5 anos de idade, e não apenas na população acima dos 65 anos. Assim, quando, e se, esta questão se colocar estaremos devidamente preparados para o efeito. Foi consensual na última reunião do Infarmed a enorme eficácia e efetividade da vacinação e a importância do reforço vacinal, pelo que este planeamento é determinante. Desde logo porque ao fim de cinco meses as vacinas perdem grande parte da sua eficácia.

Por outro lado, deveríamos estar a projetar a organização do sistema de saúde tendo em atenção não apenas os doentes COVID mas, também, os não-COVID. Se a vacinação em massa impediu que mais de dois mil portugueses viessem a perder a sua vida, seria fundamental perceber quantos portugueses morreram por ausência de diagnóstico e de assistência médica adequada, vidas que poderiam ter sido salvas. O exemplo do rastreio oncológico é paradigmático e um dia deverá ser dito, com verdade e transparência, qual foi a mortalidade acrescida, de cancro da mama, do cólon, da próstata, entre outros.

Ou seja, uma lição que se pode extrair desta pandemia é a necessidade de reprogramar o sistema de saúde para a fase pós-pandémica que agora se antecipa, ouvindo os especialistas, mas com a coragem necessária para tomar as medidas e implementar as políticas públicas que não podem esperar.

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