Há três anos, o Primeiro Ministro António Costa prometeu que iria tentar formar 15 mil licenciados em áreas de baixa empregabilidade para terem competência em áreas da programação e assim preencher os 40 mil postos de programação que o país então necessitava.

Qual foi o ministério ou secretaria de Estado que ficou com esta incumbência?

Segundo o site do governo INCoDe.2030, gerido ao que parece pela FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o Programa APOSTAR EM TI – FORMAÇÃO NA ÁREA DE INFORMÁTICA, à data de consulta de 4 de junho de 2020, continuava a anunciar: as inscrições do Apostar em TI estão já abertas e irão prolongar-se até ao dia 15 de fevereiro de 2018.

Consultando o site, percebemos que é uma iniciativa público-privada entre a Critical Software e o ISEC, Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, e que tem a decorrer uma segunda edição, com 24 alunos. É fazer as contas: em três anos iam formar 15 mil pessoas, estão a formar 24 na segunda edição, logo, talvez tenham formado 14976 programadores na primeira edição.

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Gostava de saber: dos 15 mil licenciados que supostamente deveriam ter sido convertidos em programadores, quantos foram realmente os que conseguimos converter com os programas do Estado?

A Comissão Europeia previu, há dois anos, uma escassez de 500 mil programadores em 2020. Estas pessoas podem trabalhar perfeitamente à distância em centros de competência no nosso país.

Grandes marcas e empresas nacionais e internacionais procuram, hoje, mais do que nunca, ter programadores especializados a quem possam terciarizar o desenvolvimento de programas informáticos através de centros de competência próprios, ou da contratação a empresas que ofereçam este serviço no nosso país.

Os decisores dessas empresas reconhecem a nossa qualidade na mão de obra, com salários mais competitivos, numa localização relativamente próxima dos centros de compra/decisão, seja na distância, na zona horária (ou ambas), ao contrário de outros centros de desenvolvimento localizados, por exemplo, na Índia, que estando tão longe põem em causa a gestão diária dos projectos.

Podemos ter aqui uma oportunidade para melhorar a vida de milhares de portugueses desempregados, ou os milhões de portugueses que recebem menos de 750 euros por mês. Ou será que melhorar as condições de vida dos portugueses não importa?

Infelizmente, temos de assistir à Europa a consumir os recursos que vêm de países como o Brasil, a Polónia, ou a Roménia, em vez de recorrer aos nossos recursos.

Portugal perde os seus poucos recursos para outros países, não sendo capaz de reconverter desempregados ou formar programadores à velocidade que os deixa escapar.

Esse “desperdício” vai continuar a agravar-se, especialmente agora que, após esta crise, muitas empresas irão apostar em programas de transformação digital.

Um cenário que se vai prolongar, se os governos do nosso país continuarem a não ser sérios a:

  • investir na educação digital, nomeadamente dos mais novos, com programas de educação em TI actualizados e modernos;
  • apostar na reconversão de trabalhadores em programadores com base nas tecnologias actuais, através de cursos curtos e eficazes. É só falar com quem já os faz e com sucesso;
  • copiar o que outros países na Europa (de leste) estão a fazer.

Aliás, posso garantir que, com os 10 milhões de dólares que o Governo já pagou por 500 ventiladores que ainda não chegaram, já estariam neste momento formadas cerca de 4 mil pessoas em cerca de 3 meses.