Nem sempre é má ideia não votar; mas depende das razões que temos para não votar, que podem ser boas ou más. Quando votamos tudo parece pelo contrário mais simples. O que nos é dito é que votamos, e devemos votar, para que alguma coisa aconteça. Examinamos as várias descrições de coisas que podem acontecer, elaboradas por partidos ou candidatos; e decidimos por aquela que nos agrada mais, podendo também ter razões para isso.

Esta teoria não é uma boa ideia. Na verdade as nossas razões são parecidas com as nossas desculpas. Só fabricamos razões quando nos perguntam porque fizemos ou vamos fazer alguma coisa; mas é raro fazerem-nos perguntas dessas. Ninguém inspecciona as minhas razões antes de eu votar: às outras pessoas basta-lhes normalmente imaginar em quem eu voto; e a sua curiosidade sobre as minhas razões só é excitada quando descobrem que eu não vou votar como imaginavam. Os outros preocupam-se com as nossas razões apenas quando suspeitam de que qualquer coisa mudou em nós. Quanto a nós, não determinamos as nossas razões antes de determinar o nosso voto. Votar não é como resolver um problema, escolher um produto, ou chegar a uma conclusão; raras vezes é o resultado de uma deliberação. Nos dias de reflexão eleitoral não há razões para reflectir.

Uma outra dificuldade tem a ver com a noção de examinar descrições de coisas que podem acontecer. Sabemos intuitivamente que só acontece aquilo que pode acontecer; e por isso não votamos regra geral em partidos ou candidatos que prometem abolir os tipos sanguíneos ou redesenhar as órbitas elípticas dos planetas. Mas seria errado concluir que só votamos nas descrições dos cenários que nos são mais prováveis. Votamos de facto muitas vezes em promessas acerca de todos os tipos de cenários. Isto sugere que acreditamos muitas vezes não tanto na descrição como na pessoa ou nas pessoas que fazem essa descrição. Se não acredito em quem me faz a promessa não acredito na promessa.

Não é porém necessário que eu vote num partido ou numa pessoa porque acredito nas promessas que me faz, ou porque goste de cenários prováveis. Posso votar, e muitas vezes voto, porque tenho motivos ou razões independentes das promessas e dos cenários daqueles por quem voto. Posso por exemplo tratar o meu voto como uma aposta, e votar porque acredito que o partido em que voto irá ganhar – mesmo que eu não ganhe nada com a aposta; posso também votar porque acredito na maior parte das promessas de um partido de que não gosto embora não acredite nas promessas do partido em que voto; e posso finalmente votar e querer que todos votem porque acho que é genericamente preferível que muitos votem, mesmo que a maior parte dos votantes não tenha razões especiais para ter votado em quem votou, ou que quase todos possam ter boas razões para não votar.

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