A resiliência nada mais é do que a capacidade humana de superar as adversidades, transformando os momentos difíceis em oportunidades para aprender, crescer e mudar. As pessoas resilientes conseguem não apenas amadurecer emocionalmente, como também ficam mais fortes depois de ultrapassada a fase negativa. Conseguem adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas – choque, stress, algum tipo de evento traumático, entre outros. Não entram em surto psicológico, emocional ou físico, por encontrar soluções e estratégias para enfrentar e superar as adversidades.

Esta é a definição da palavra resiliência. E o que significa competência técnica?

As competências técnicas são as que se referem ao conhecimento adquirido pela experiência e formação profissionais… Assim, o propósito dessas competências é permitir que o colaborador utilize os meios disponíveis para executar sua função.

Depois de vermos o significado de resiliência e competências técnicas, vamos analisar porque um médico não deve ser apenas resiliente e competente técnico em simultâneo.

Os médicos são acima de tudo seres humanos. Não são robots com pilhas recarregáveis. Têm sentimentos e emoções. Face à sua formação e código deontológico, o seu papel principal é criar empatia com o doente, diagnosticar e tratar a sua doença e se possível tentar curá-lo do mal que o apoquenta. Mas todo esta relação médico-doente exige um ambiente adequado e acima de tudo humano para ambas as partes envolvidas.

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Os médicos e os profissionais de saúde mostraram ao longo da história a sua capacidade de adaptação e sofrimento perante situações adversas e a prova provada foi durante o pico de pandemia em que muitos profissionais por serem resilientes atingiram a exaustão, o chamado burnout físico, psicológico e emocional. Trabalharam em condições desumanas em prol dos doentes e em defesa da instituição.

Mas será que é este o caminho que este país e os seus responsáveis políticos, independentemente do partido que esteja a governar querem para os médicos e os profissionais de saúde? Que sejam resilientes e competentes técnicos ao mesmo tempo, sem condições de trabalho e com total desrespeito pela parte humana em que o doente é o principal protagonista?

Trabalharmos em stress faz parte da nossa profissão. Mas também é importante termos um ambiente de trabalho em que podemos focalizar única e exclusivamente no nosso doente. A falta de meios técnicos e humanos de apoio, implica um risco elevado de podermos falhar. O principal prejudicado é o doente.

Podemos ser resilientes e competentes técnicos, mas há limites para tudo e o médico e qualquer profissional de saúde que procura sempre o bem estar do doente não pode nem deve entrar neste jogo de sermos as duas coisas em simultâneo, sem um ambiente propício de trabalho.

Quem passa e vê diariamente este ambiente desumano e de total falta de respeito para com quem trabalha, sabe o significado destas palavras.

Os profissionais de saúde em vez de ouvirem afirmações desrespeitosas vindas dos responsáveis da área em que nos pertencemos, seria muito mais proveitoso se passassem de palavras aos actos e nos obsequiassem com melhores condições de trabalho e de meios técnicos e humanos . A nossa competência técnica é reconhecida no nosso país e a nível internacional. Temos capacidade de sofrimento e como tal somos resilientes. Precisamos de mais meios técnicos e humanos para podermos fazer mais e melhor em prol do nosso único objetivo que é o doente.

Se os profissionais de saúde que trabalham nos hospitais estão a chegar ao limite de exaustão e os responsáveis de urgências do norte a sul de Portugal já se pronunciaram sobre este assunto, ninguém pode ficar admirado que a cada 12 horas tenha saído um médico do SNS. Se acham que a política de saúde está no caminho certo, podem ouvir os utentes e vão perceber que estão todos do lado dos médicos e dos profissionais de saúde porque eles são os verdadeiros testemunhos do nosso quotidiano em que a capacidade de improviso predomina por falta ou falha de quase tudo.

Será apenas falta de dinheiro? Ou será acima de tudo falta de organização, comunicação , planeamento e execução das prioridades?

Sem estas bases na gestão de fundos, nada irá ficar resolvido. Ter dinheiro não é suficiente, é preciso saber geri-lo e é isto que nos tem faltado ao longo dos anos. Mas aliada à gestão de dinheiro, é também importante haver gestão humana. Gerir pessoas é a tarefa mais difícil que requere acima de tudo respeito, reconhecimento e inteligência no aproveitando das capacidades individuais de cada um. Sem estas premissas e com ausência de estímulos para cada trabalhador, será muito difícil atingir o êxito. As frustrações surgem e a vontade de desistir aumenta e a resistência acaba! Até à mudança e saída da função pública é um pequeno passo.

Os profissionais de saúde não querem ser melhores tratados que as outras profissões. Devem é exigir que sejam respeitados e que tenham condições para poderem exercer a sua profissão com dignidade. Será tão difícil alguém perceber o que queremos?