O país está em choque com o caso do recém-nascido abandonado num contentor. Mas, apesar da forte censura social, tenho a certeza de que todos os portugueses sentem compaixão por aquela mãe. Quer dizer, todos, todos, não. Há uma portuguesa que o que sente pela mãe que abandonou o filho, não é compaixão, é inveja. Trata-se da mãe de José Sócrates. Neste momento, Maria Adelaide Pinto de Sousa deve estar a pensar porque é que não se lembrou de enjeitar o seu filho, mal o trouxe ao mundo. Devia ter percebido, quando o mini-Sócrates mamava um bocadinho mais do que era preciso, o abusador.

Tinha-se poupado a muitas agruras. Aliás, não ficava por aí em termos de poupanças: também poupava os 5 milhões de euros que, sabemos agora, José Sócrates lhe torrou em férias, quadros, restaurantes e amigas. De herdeira milionária de um milhão de contos, a mãe de Sócrates passou a pensionista remediada, sobrevivendo a pedinchar esmolas ao mesmo filho que lhe esbanjou a fortuna. Agora, sentada na sala do seu casinhoto de 70 m2 – o tamanho do closet, tão típico da classe média, onde José Sócrates guardava os seus fatos e sapatos, em Paris – Maria Adelaide Pinto de Sousa lamenta não ter tido a presença de espírito para se livrar da sanguessuga ingrata a que o resto do país se habituou a chamar Engenheiro Sócrates.

Se o tivesse feito, hoje teria uma vida mais confortável, a usufruir da herança que o seu pai lhe deixou. (Já nós, portugueses, de certeza que nos teríamos lixado de igual forma. Sócrates começaria por endrominar o sem-abrigo que o encontrasse no lixo, surripiando-lhe com o cartão todo, e ia arranjar maneira de chegar a primeiro-ministro, para cumprir o seu desígnio de intrujar Portugal).

José Sócrates é uma espécie de filho pródigo, mas sem a parte da redenção. Na parábola bíblica, o filho pede ao pai a herança adiantada e vai estourá-la. Já na penúria, regressa, humilde, para os braços de seu pai. Sócrates é ligeiramente diferente: também é perdulário com a herança que a mãe lhe adianta, mas, depois de tudo gasto, não aprende qualquer lição de humildade. Pelo contrário, enquanto Sócrates continua com a fanfarronice habitual, é a mãe, que o sustentou, que está mais humilde. Basta ler a transcrição das escutas telefónicas entre os dois, com a mãe a dizer que está “depenadinha” e a suplicar ajuda para comprar um agasalho e para conseguir ir de férias. Mais humilde que isto, só se cantasse “A minha casinha” ao telefone.

A mãe de Sócrates faz lembrar a Virgem Maria, desolada, a sofrer pelo filho. A diferença é que Nossa Senhora sofria por Cristo à beira da cruz, enquanto Adelaide Pinto de Sousa sofre por Sócrates, à beira da Caixa Multibanco, sem fundos para levantar, com o bonequinho no ecrã a encolher os ombros como quem diz “o teu filhou já esvaziou tudo”. Stabat mater dolorosa, uma, Stabat mater depenadinha, outra. Faz sentido a mãe de Sócrates dizer-se sem penas, já que caiu na conversa do filho que nem uma patinha.

É por isso que tantos socialistas continuam a admirar José Sócrates. Como bom homem de esquerda que odeia os ricos, Sócrates conseguiu esmifrar de tal forma uma milionária, que a pôs a viver como uma pessoa de classe média-baixa. Está bem que é a sua mãe, mas isso confere ainda mais valor ao processo de redistribuição de riqueza executado por Sócrates. Com o que Sócrates fez à mãe, Portugal ficou um país menos desigual.

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