A chaga dos incêndios é um dos maiores problemas ambientais, sociais e económicos que, infelizmente, nos assola sempre que o calor regressa. Áreas imensas são destruídas enquanto bombeiros e populações lutam com o que podem para tentar controlar o que, por vezes, chega a ser incontrolável. Seja por obra da natureza, ou pelo desejo malicioso do homem, a verdade é que o (des)ordenamento do território em nada ajuda na luta contra este flagelo. E a seca que enfrentamos em nada irá ajudar…

Mas como podem os castores ajudar? Todos nós já vimos, nem que seja nos programas infantis, pequenas represas de madeira construídas por um grupo de mamíferos roedores que ajudam a regular o nível dos cursos de água. Mas qual a sua relação com os incêndios? Um estudo norte-americano demonstrou que, ao contrário do que nos poderia passar pela cabeça, a existência destas represas desempenha um papel relevante na proteção da vegetação ripícola durante os incêndios florestais, sendo recorrente o seu impacto positivo na paisagem. Essas “obras” ajudam ainda no controlo de cheias e no combate à seca, criando condições ao desenvolvimento da fauna e flora.

Não quero com isto dizer que devemos relegar nesses pequenos animais a responsabilidade de mudar a paisagem. Até porque sua extinção definitiva em território nacional terá acontecido no século XV. Mas podemos aprender com o seu engenho. Apesar de reduzida dimensão, as suas construções devem ser um exemplo que podemos e devemos seguir. O seu benefício pode e deve ser ampliado. A edificação de novas barragens não pode ser considerada como teimosia de alguns, mas sim como uma urgente necessidade. Estas obras de engenharia, independentemente da sua dimensão, e que para tantos não passam de aberrações ambientais, alteram a paisagem, mas para melhor. Melhoram a biodiversidade, assegurando um regime de caudais ecológicos e ambientais. Ajudam no combate à desertificação e ao despovoamento, criando riqueza e bem-estar, desenvolvendo as regiões. Ajudam no ordenamento do território, permitindo a instalação de explorações agro-silvo-pastoris que contribuem para um desenvolvimento socioeconómico sustentado do território e para a fixação de populações. Contribuem para a competitividade da agricultura nacional e para o equilíbrio da balança agroalimentar. Permitem criar reservas em situações de escassez. Abastecem as populações. Controlam cheias. E, tal como as pequenas represas de madeira roída, ajudam no combate a incêndios rurais e florestais, alimentando a vegetação circundante, criando zonas tampão, e armazenando água que ajuda no combate aos fogos. E o Governo já sabe onde deve/pode construir tais obras. E alguns desses locais são próximos de áreas que já arderam este ano, como a região da Serra da Estrela…

Julgo que estas razões serão suficientes para que não apenas o sector agrícola apele à sua construção. É razão para volta a dizer: “Construam-nas, porra!”

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