Durante o mês de janeiro de 2020, no dia 25, a Direção-Geral da Saúde (DGS) informou que fora negativo o teste feito a um cidadão português, que se encontrava em observação no Hospital Curry Cabral, por ser proveniente de Wuhan. Este cidadão constituía o primeiro caso suspeito de Covid-19 em Portugal, não confirmado. Comentando este caso, a Diretora-Geral da Saúde afirmou e bem, que o facto de uma pessoa ter um teste com resultado negativo não nos deixava descansados e que a deteção precoce é a forma mais eficaz de controlar a propagação do vírus.

Nesse mesmo dia 25 de janeiro, a DGS publicou a Orientação Nº 02/2020, que se referia à infeção pelo novo Coronavírus (2019-nCoV) e dirigida aos profissionais de saúde. Tratava-se de uma orientação destinada a definir casos e contactos e a abordagem dos casos suspeitos. Trata-se de uma orientação redigida à luz dos conhecimentos de então, sobre a infeção pelo SARS-CoV-2 e é nessa condição que deverá ser interpretada.

No dia 29 de janeiro, um grupo de 18 portugueses que se encontrava em Wuhan pediu apoio ao Governo português para regressar a Portugal, tendo chegado a Lisboa no dia 2 de Fevereiro e ficado em isolamento profilático e voluntário, durante 14 dias, no Hospital Curry Cabral.

Entretanto, haviam regressado de Itália cerca de 400 portugueses que tinham participado na feira de calçado de Milão, local próximo da região com mais casos confirmados de infeção por SARS-CoV-2. O porta-voz da APICCAPS informou que esses cidadãos estariam a fazer a medição da temperatura duas vezes por dia, a evitarem a exposição pública e a reforçarem as medidas de higienização das mãos. É de salientar que esta auto-monitorização foi de iniciativa pessoal, sem qualquer intervenção direta por parte da DGS. Aliás, eram frequentes as reportagens na comunicação social em que estes cidadãos se queixavam da falta de apoio por parte das autoridades de saúde.

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Poucos dias depois, no dia 2 de março, quando já havia registo de mais de 90 mil infetados e mais de três mil mortos em todo o mundo, foram confirmados os dois primeiros casos em Portugal. Um deles era um médico de 60 anos que regressara de férias do Norte de Itália. O outro, era um jovem de 33 anos que regressara de Valência. A DGS informou que as autoridades portuguesas iriam rastrear os contactos desses doentes e que não haveria razão para se agravarem as medidas de saúde pública em Portugal nem para se intensificar a realização de testes, porque “em Itália foram feitos milhares de testes que não detetaram ninguém”. Deverá, contudo, salientar-se que já nesta fase de evolução da epidemia, a OMS apelava para a realização de testes em larga escala, para se facilitar a identificação de infetados. Foi também decidido proceder-se ao rastreio de contactos de viajantes provenientes de Itália, à semelhança do que já acontecia com os provenientes da China, e divulgado que os indivíduos com queixas de febre, tosse ou dificuldade respiratória, deveriam contactar a Saúde 24.

Desde então, a história da evolução da pandemia é bem conhecida de todos.

Na primeira vaga, que decorreu até ao fim de abril, não se registaram grandes sobressaltos. Ao contrário do que aconteceu nos países vizinhos, Espanha e Itália, registamos uma baixa incidência e baixa taxa de letalidade. A análise da média móvel em sete dias revelou que a média diária máxima de novos casos foi de 89,2 e de 3,2 mortes por milhão de habitantes. Em Itália, a incidência de 94,1 foi semelhante à de Portugal, mas, a letalidade, de 16,6, foi consideravelmente superior.  Em Espanha, pelo contrário, quer a incidência, quer a letalidade foram significativamente superiores, tendo sido, respetivamente, de 187,7 e de 19,5.

A partir do fim de abril e até ao fim de agosto, a incidência média, medida aos sete dias, variou entre 17,1 e 37,5 por milhão de habitantes. No final de Agosto, iniciou-se a segunda vaga, que até ao dia 9 de outubro foi subindo lentamente, para então sofrer uma inflexão e alcançar o valor máximo de 581,7 novos casos por milhão de habitantes, a 19 de novembro. A letalidade máxima foi de 8,9 mortes por milhão de habitantes no dia 16 de Dezembro. Assim, comparando a primeira vaga com a segunda, o valor máximo registou um agravamento de 652% na incidência de novos casos e de 278% na letalidade.

A curva descendente da segunda vaga foi interrompida a 28 de dezembro, tendo-se registado nesse dia uma média móvel de sete dias, de 292,1 novos casos por milhão de habitantes. Iniciou-se, então, a terceira vaga que alcançou o seu valor máximo a 28 de janeiro de 2021, com uma média diária de 12.890 novos casos. O valor máximo da mortalidade foi alcançado a 1 de fevereiro, com uma média de 29,1 mortes por milhão de habitantes. Assim, se compararmos os valores médios máximos, entre a segunda e a terceira fase, verificamos que houve um agravamento de 222% na incidência de novos casos e de 327% na mortalidade.

Passado que é um ano de pandemia, poderemos agora fazer uma análise retrospetiva do que foi a sua evolução no mundo e compará-la, também, nalguns países da Europa. Procedemos à análise da média móvel a sete dias, da incidência de novos casos e da letalidade, por milhão de habitantes, referida ao dia 14 de abril de 2020 e de 2021. Analisamos também as vagas registadas a nível mundial e nos diversos países.

1 A nível mundial, a incidência média era, em 2020, de 82.254 novos casos e em 2021, de 775.027, representando um valor 842% superior. Por outro lado, a mortalidade era de 6.903 em 2020 e de 12.045, em 2021, valor este que corresponde a um aumento de 74,5%. Assim, enquanto que em 2020 a taxa de letalidade era de 8,1%, em 2021, era de 1,6%. Significa que se verificou um impacto extraordinário na redução de 80,3% na taxa de letalidade, que poderá ser explicado por diversas razões, mas, certamente, uma das mais importantes será devida ao progresso no conhecimento da doença e. consequentemente, na adoção de medidas terapêuticas mais eficazes. A análise da curva de incidência dos novos casos durante um ano permite-nos identificar claramente quatro vagas: a primeira iniciada com os primeiros casos; a segunda, a partir do início de junho; a terceira, a partir do início de outubro; a quarta, iniciada a meio de fevereiro de 2021. Ao analisarmos a mortalidade, observamos, como seria de esperar, que em cada vaga, o seu pico ocorreu sempre depois do pico da incidência de novos casos. Com exceção da segunda vaga, em que o pico da incidência de novos casos praticamente coincidiu com o da mortalidade, nas outras vagas a diferença entre os dois picos foi, consistentemente, de 14 dias.

2 Em Israel, que merece uma análise em separado devido à elevada percentagem de população imunizada por processo de vacinação, a 14 de abril de 2020, a média móvel a sete dias, de novos casos, era de 368 e, em 2021, era de 153 casos, ou seja, uma redução de 58,4%. A mortalidade também baixou de uma média diária de oito mortes, para cinco. Ao fim de um ano, a análise por milhão de habitantes revela que a prevalência é de 91.026 casos, a mortalidade é de 689, com uma taxa de letalidade de 0,7%. Os testes realizados foram 1.519.685 por milhão de habitantes, refletindo um total de 16,7 testes por cada caso diagnosticado. Registaram-se 4 vagas, tendo sido o pico da primeira a 22 de março, o da segunda a 21 de junho, o da terceira a 31 de agosto e o da quarta a 23 de novembro. Em cada uma das vagas, o pico da mortalidade ocorreu, em média, 15 dias depois do pico da incidência de novos casos.

3 Na análise dos países do Sul incluímos Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia, reportando-nos sempre à média móvel a sete dias, analisada no dia 14 de abril.

3.1. Em Portugal, a incidência de novos casos foi de 589 em 2020 e de 519 em 2021, ou seja, uma redução de 11,9%. A redução da mortalidade foi mais significativa, tendo passado de 32 casos para 4, o que corresponde a uma redução de 87,5%. Passado um ano, a análise por milhão de habitantes revela uma prevalência de 81.709 casos e de uma mortalidade de 1.666 casos. Realizaram-se 961.832 testes por milhão de habitantes e registaram-se três vagas. O pico da primeira ocorreu a 4 de abril, o da segunda a 19 de novembro e o da terceira a 28 de janeiro de 2021. Em cada uma das vagas, a relação entre o pico da incidência de novos casos e o da mortalidade foi muito variável. Na primeira, ocorreu 11 dias depois. Na segunda, a mortalidade ocorreu em planalto e o valor máximo registou-se 29 dias depois do pico da incidência de novos casos, e na terceira quase coincidiram, ocorrendo o da mortalidade apenas quatro dias depois.

3.2. Em Espanha, a incidência de novos casos foi de 2.263 em 2020 e de 8.378 em 2021, ou seja, um aumento de 270%. A redução da mortalidade foi significativa, tendo passado de 509 casos para 90, o que corresponde a uma redução de 82,3%. Passado um ano, a análise por milhão de habitantes revela uma prevalência de 73.304 casos e de uma mortalidade de 1.649 casos. Realizaram-se 948.790 testes por milhão de habitantes e registaram-se quatro vagas. O pico da primeira ocorreu a 21 de abril, o da segunda a 2 de outubro, o da terceira a 28 de outubro e o da quarta a 16 de janeiro de 2021. Em cada uma das vagas, a relação entre o pico da incidência de novos casos e o da mortalidade também foi muito variável. Na primeira, ocorreu 14 dias depois. Na segunda, não foi possível identificar um pico de mortalidade e na terceira e na quarta ocorreram 28 dias depois do pico da incidência de novos casos.

3.3. Em França, a incidência de novos casos foi de 2.654 em 2020 e de 33.771 em 2021, ou seja, um aumento de 1173%. Contudo, a redução da mortalidade foi significativa, tendo passado de 784 casos, para 289, o que corresponde a uma redução de 63,2%. Passado um ano, a análise por milhão de habitantes revela uma prevalência de 80.996 casos e de uma mortalidade de 1.547 casos. Realizaram-se 1.110.485 testes por milhão de habitantes e registaram-se três vagas. O pico da primeira ocorreu a 3 de abril, o da segunda a 8 de novembro e o da terceira a 7 de abril de 2021. Entre a segunda e a terceira vaga, observou-se uma evolução em planalto, não tendo sido possível identificar um período claro de aumento da incidência. Na primeira vaga, o pico da mortalidade ocorreu seis dias depois do de novos casos e na segunda vaga ocorreu 11 dias depois. Na terceira vaga a evolução da mortalidade foi em planalto, não tendo sido possível identificar um pico máximo de incidência.

3.4. Em Itália, a incidência de novos casos foi de 3.552 em 2020 e de 14.747 em 2021, ou seja, um aumento de 315,2%. A mortalidade também registou um acréscimo significativo, tendo passado de 194 casos para 398, o que corresponde a um aumento de 105,2%. Passado um ano, a análise por milhão de habitantes revela uma prevalência de 64.232 casos e de uma mortalidade de 1.941 casos. Realizaram-se 914.731 testes por milhão de habitantes e registaram-se três vagas. O pico da primeira ocorreu a 25 de março, o da segunda a 16 de novembro e o da terceira a 17 de março de 2021. É de salientar que o período entre a segunda e a terceira vaga decorreu em planalto, nunca tendo alcançado um vale claro. Em cada uma das vagas, a diferença entre os picos de incidência de novos casos e de mortalidade foi sendo sempre crescente. Assim, na primeira vaga este ocorreu sete dias depois, na segunda vaga, 18 dias depois e na terceira vaga, 27 dias depois.

3.5. Na Grécia, a incidência de novos casos foi de 31 em 2020 e de 2812 em 2021, ou seja, um aumento de 8971%. Da mesma forma que o aumento da incidência de novos casos, o aumento da mortalidade também foi significativo, tendo passado de 2 casos, para 81, o que corresponde a um aumento de 3950%. Passado um ano, a análise por milhão de habitantes revela uma prevalência de 30.521 casos e de uma mortalidade de 919 casos. Realizaram-se 721.391 testes por milhão de habitantes e registaram-se três vagas. O pico da primeira ocorreu a 3 de abril, o da segunda a 19 de novembro e o da terceira a 06 de abril de 2021. Em cada uma das vagas, a relação entre o pico da incidência de novos casos e o da mortalidade também foi variável. Na primeira, ocorreu quatro dias depois do pico da incidência de novos casos, enquanto que na segunda e na terceira ocorreu 14 dias depois.

Em resumo, no que se refere aos países do Sul da Europa, poderemos concluir que ao fim de um ano de pandemia:

  • Portugal foi o único país em que a incidência de novos casos não cresceu. Em todos os outros, aumentou significativamente, entre 270% para Espanha e 8971% para a Grécia;
  • Em França e nos dois países da Península Ibérica, a mortalidade baixou significativamente, enquanto que se registou um aumento de 105% em Itália e outro, particularmente significativo e preocupante, de 3950%, na Grécia;
  • Com exceção da Grécia, em que a prevalência de casos é significativamente inferior à dos outros países (59,3% inferior), nestes, a média é de 75.060 casos por milhão de habitantes. A mesma conclusão poderá ser retirada para a mortalidade, que na Grécia é de 919 casos por milhão de habitantes e nos restantes quatro países é, em média, de 1.700 casos, ou seja, 85,1% superior à da Grécia;
  • Para o diagnóstico de cada caso, a Grécia realizou 23,6 testes, 78,8% mais testes do que a média dos outros quatro países, que foi de 13,2 testes por cada caso diagnosticado, variando entre 11,8 para Portugal e 14,2 para Itália. A Grécia foi o país que menos testes fez por milhão de habitantes (721.391) e a França foi o que mais fez (1.110.485). Se juntarmos a esta análise a da evolução das curvas de prevalência de casos e de mortalidade, verificamos que Portugal, não tendo sido o país que fez mais testes por milhão de habitantes e sendo o que tem o menor número de testes por cada caso positivo, é o que tem o melhor perfil de evolução das curvas. Estão ambas em planalto, estável, desde o meio de fevereiro de 2021. Em Espanha, que ocupa uma posição intermédia na realização de testes e só faz 12,9 para diagnosticar cada caso positivo, as curvas também estão a tender para uma evolução em planalto, ainda que menos significativa do que as portuguesas. Em França, que é o país que mais testes faz por milhão de habitantes e que ocupa uma posição intermédia de 13,7 testes para diagnosticar um caso positivo, as curvas ainda se encontram em rampa ligeiramente ascendente. Em Itália, que é o segundo País que menos testes faz por milhão de habitantes e o segundo que mais testes faz para diagnosticar cada caso positivo, as curvas permanecem em rampa ascendente, ainda mais acentuada do que as francesas. Finalmente, na Grécia, que é o País que menos testes fez por milhão de habitantes e o que mais testes fez para diagnosticar um caso positivo, as curvas continuam com uma preocupante tendência ascendente, podendo indiciar um agravamento da prevalência de casos e da mortalidade num futuro próximo;
  • Com exceção de Espanha, em que foram identificadas quatro vagas, nos outros quatro países foram identificadas três vagas, em cada um deles. Quando analisamos a relação entre o pico da incidência de novos casos e o pico da mortalidade, em cada vaga, verificamos que o tempo que decorre entre ambos vai aumentado à medida que as vagas se vão sucedendo. Há, no entanto, algumas exceções, como sejam: em Portugal, na 3ª vaga, os dois picos quase que coincidiram; em Espanha, na 2ª vaga ,e em França, na 3ª vaga, não foi possível identificar um pico de mortalidade; na Grécia, na 2ª e na 3ª vagas, o pico da mortalidade ocorreu 14 dias depois do da incidência de novos casos.

4 Se procedermos à análise dos quatro países da União Europeia que têm cerca de 10,5 milhões de habitantes, temos a República Checa a Leste, Portugal a Oeste, a Suécia a Norte e a Grécia a Sul. Como já procedemos à análise de Portugal e da Grécia, passemos, então, à análise dos outros dois, para que possamos comparar os quatro.

4.1. Na República Checa, a incidência de novos casos foi de 117 em 2020 e de 3.185, em 2021, ou seja, um aumento de 2622%. Da mesma forma que o aumento da incidência de novos casos, o aumento da mortalidade também foi significativo, tendo passado de sete casos para 83, o que corresponde a um aumento de 1086%. Passado um ano, a análise por milhão de habitantes revela uma prevalência de 149.748 casos e de uma mortalidade de 2.670 casos. Realizaram-se 1.490.846 testes por milhão de habitantes e registaram-se quatro vagas. O pico da primeira ocorreu a 3 de abril, o da segunda a 28 de outubro, o da terceira a 10 de janeiro de 2021 e o da quarta a 7 de março de 2021. Em cada uma das vagas, a relação entre o pico da incidência de novos casos e o da mortalidade, foi muito variável. Na primeira, ocorreu 12 dias depois do pico da incidência de novos casos, na segunda, 9 dias depois, na terceira, 3 dias depois, e na quarta, 7 dias depois. Foram realizados 10 testes para diagnosticar cada caso positivo e as curvas de prevalência de casos e de mortalidade encontram-se atualmente em ligeira rampa ascendente e a tenderem para uma evolução em planalto.

4.2. Na Suécia, a incidência de novos casos foi de 546 em 2020 e de 4.215, em 2021, ou seja, um aumento de 672%. Ao contrário da incidência de novos casos, a mortalidade baixou significativamente, tendo passado de 95 casos, para 8, o que corresponde a um decréscimo de 91,6%. Passado um ano, a análise por milhão de habitantes revela uma prevalência de 88.687 casos e de uma mortalidade de 1.358 casos. Realizaram-se 803.165 testes por milhão de habitantes e registaram-se três vagas atípicas. A primeira decorreu durante um período prolongado e em planalto, tendo o pico ocorrido a 29 de junho e o pico da mortalidade a 16 de abril. O pico da segunda foi a 23 de dezembro e o pico da mortalidade apenas 5 dias depois. O pico da terceira ocorreu a 15 de abril de 2021 e tal como tinha acontecido na primeira vaga, o pico da mortalidade precedeu o da incidência de novos casos, tendo ocorrido a 6 de abril. Foram realizados 9,1 testes para diagnosticar cada caso positivo e as curvas de prevalência de casos e de mortalidade são muito divergentes. Enquanto que a primeira se mantém em rampa francamente ascendente, a segunda é ligeiramente ascendente, a tender para a evolução em planalto.

Se procedermos à análise comparativa destes quatro países, verificamos que:

  • Com exceção de Portugal, em que se observou uma discreta descida na incidência entre 2020 e 2021, nos outros três países essa tendência foi de subida, tendo sido particularmente significativa na República Checa e na Grécia;
  • No que se refere à mortalidade, no mesmo período, enquanto que em Portugal e na Suécia se registou uma descida significativa, pelo contrário, na República Checa e na Grécia observou-se um aumento muito significativo;
  • O número de casos por milhão de habitantes é semelhante em Portugal e na Suécia, sendo significativamente superior na República Checa (75,8% superior) e significativamente inferior na Grécia (64,2% inferior);
  • Ao analisarmos a mortalidade, verificamos que a Grécia é o país que tem o menor número de mortes por milhão de habitantes (919), seguindo-se a Suécia, com 1.358, depois Portugal, com 1.666, e, finalmente, a República Checa com 2,670. Contudo, se procedermos à análise da taxa de letalidade temos uma realidade diferente. A Grécia é o país com a pior taxa de letalidade (3,0%), seguindo-se Portugal, com 2,0%, depois a República Checa, com 1,8%, e, finalmente, a Suécia com a melhor taxa de letalidade, que é de 1,5%;
  • A Suécia é o país que gasta menos testes para diagnosticar um caso positivo (9,1 testes), enquanto que a Grécia é o que gasta mais (23,6 testes) e Portugal e a República Checa gastam ligeiramente mais do que a Suécia, respetivamente, 11,9 e 10 testes.

Poderemos, então, concluir que:

  • Em termos globais, a nível mundial, a pandemia não se encontra controlada. Encontramo-nos em plena quarta vaga, com a curva ainda em rampa ascendente e tendo a média móvel dos últimos sete dias alcançado no dia 21 de Abril, o valor de 800.573 novos casos, que é superior ao valor máximo registado na terceira vaga;
  • Em Israel, a redução significativa de 58,4% na incidência de novos casos e, acima de tudo, a baixa taxa de mortalidade, de 0,7%, poderão interpretar-se como sendo o contributo da vacinação em massa e, sobretudo, da sua eficácia na redução da incidência de doença grave ou muito grave e consequentemente, da mortalidade;
  • A pandemia não se encontra controlada nos países do Sul da Europa. Com exceção de Portugal, a incidência de novos casos cresceu em todos os outros, sendo esse crescimento particularmente preocupante na Grécia;
  • No que se refere à mortalidade, com exceção da Grécia, onde cresceu de uma forma preocupante, baixou ou estabilizou em todos os outros países, traduzindo um melhor conhecimento acerca da doença, em particular, no tratamento das suas formas graves ou muito graves e na proteção dos grupos de risco;
  • Não será possível afirmar se houve ou não alguma relação entre o número de testes realizados por milhão de habitantes e a eficácia no diagnóstico de casos positivos na comunidade, porque não é possível saber o número de casos positivos que não foram diagnosticados. No entanto, é possível afirmar que não houve qualquer relação entre o número de testes feitos e o prognóstico da doença;
  • Apesar de já ter decorrido mais de um ano desde o início da pandemia Covid-19, é importante assumirmos com humildade o nosso ainda pouco conhecimento acerca dos mecanismos de transmissão e de proteção do vírus. A República Checa, há um ano, era o exemplo da eficácia do uso obrigatório da máscara no controlo da pandemia. As televisões passavam reportagens de médicos portugueses a trabalharem em Praga e a testemunharem como uma coisa tão simples, como era o uso de máscara, estava a gerar o milagre de vencer a pandemia. Menos de um ano depois, quando a República Checa se tornou no pior país da Europa, ninguém mais falou desse país porque passou rapidamente do bom ao mau exemplo. No lado oposto, estava a Suécia. Esse era o pior exemplo da Europa. Não usavam máscara e não faziam confinamento. Só não eram os piores da Europa, porque esse lugar era ocupado por dois países do Sul em que havia confinamento e era obrigatório o uso de máscara. Também todos os dias víamos nas televisões que eles eram o exemplo a não seguir. Da mesma forma que aconteceu com a República Checa, também os suecos deixaram de ser o mau exemplo e nunca chegaram a ser o bom exemplo, porque a partir do momento em que passaram a estar melhor do que Portugal, já não era possível dá-los como mau exemplo e, ainda por cima, eles não faziam confinamento nem usavam máscara. Talvez fosse interessante investigar como é que eles, gastando apenas 9,1 testes por cada caso positivo diagnosticado, têm uma taxa de mortalidade de 1,5% e os gregos, que gastam 23,6 testes por cada caso diagnosticado, têm o dobro da taxa de mortalidade. Para complicar ainda mais, em Portugal, apesar de termos andado em quase permanente estado de emergência, de termos o uso obrigatório de máscara desde Outubro de 2020 e de termos essa figura do dever cívico de recolhimento, não conseguimos resistir à inflexão da segunda vaga. Eis, então, que a 28 de dezembro de 2020 começou, de novo, a subir a média móvel de novos casos a sete dias, para nos levar a alcançar o pico da terceira vaga um mês depois e nos colocar no primeiro lugar dos piores do mundo. Aí, como a “culpa não pode morrer solteira”, foi atribuída ao Natal, que era o que estava mais a jeito. Não se nega que ele tenha tido a sua quota parte de responsabilidade, mas há peças que não encaixam no puzzle. Em primeiro lugar, o famoso R(t) começou a subir antes do dia de Natal. Depois, se a culpa fosse mesmo só do Natal e do fim de semana que se lhe seguiu, deveria ter ocorrido uma nova inflexão da curva entre os dias 5 e 8 de janeiro, facto que não ocorreu. Essa inflexão ocorreu, sim, nos dias 16 e 17 de janeiro, coincidindo com cerca de 10 dias depois da reabertura das aulas, como seria previsível que acontecesse.