Esta semana assistimos a um tristíssimo episódio nos Estados Unidos. Donald Trump, como é seu costume, escreveu um tweet em que mandava “para o país delas” quatro congressistas democratas, que se distinguem pelas suas origens somali (Ilhan Omar), afro-americana (Ayanna Pressley), porto-riquenha (Alexandria Ocasio-Cortez) e palestiniana (Rashida Tlaib). O Congresso condenou – e muito bem – o presidente, mas o grupo visado, conhecido por “Squad” (qualquer coisa como “esquadrão”), não quis encerrar a questão por aí, e aproveitou o incidente – muito grave – para sua própria mediatização. Daí a uma série de dias de troca de galhardetes foi um tirinho.
É assim a política, podem dizer. Os adversários usam as fraquezas uns dos outros para travarem o seus combates. Mas é muito mais do que isso. O que estes atores acabam por fazer regularmente é ocupar grande parte do espaço público com as suas polémicas, transformando assuntos da maior importância em notas de rodapé nos jornais e no dia-a-dia das opiniões públicas. Este fenómeno é uma amostra da radicalização do mundo demoliberal. E se Donald Trump é uma das faces mais visíveis dos danos que a mediatização pode fazer na vida política, desculpem-me os fãs, mas Alexandria Ocasio-Cortez não é menos.
Aliás, o episódio lembrou-me um artigo de opinião que Edward Luce escreveu no Financial Times em fevereiro deste ano. A coluna apresenta quatro argumentos essenciais: (1) o “momento populista” norte-americano não se esgotou em Donald Trump; pelo contrário, encontrou uma adversária à altura em Ocasio-Cortez. (2) A jovem congressista “é agora a figura mais influente na política americana depois de Trump”. (3) A democrata está a defender um “Green New Deal” que é impossível de concretizar, mas que se tornou uma bandeira de uma parte do Partido Democrata, inclusive alguns dos candidatos às primárias, e que (4) esta política está inserida numa forma de socialismo nunca experimentada e em muitos aspetos inexequível. Mas isso não parece demover parte do Partido Democrata.
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