O “voto útil” é uma expressão irritante que, em períodos eleitorais, anda nas bocas de toda a gente, dos políticos aos comentadores e analistas variados (os “encartados” e os das redes sociais, cafés e táxis). Tem sido o pretexto para que, em Portugal, muitos acabem por não votar, ou votar nos mesmos de sempre, os partidos “do arco da governação”, um grupo que, na versão “geringonça”, ganhou mais dois ilustres membros, PCP e BE. Sim, esses também deixaram de ser apenas partidos de “protesto” e fazem agora parte do naipe de partidos que viabilizam soluções governamentais, influenciando as políticas e escolhas dos governos.

E são justamente estes partidos – convém nomeá-los a todos, para que não fiquem dúvidas: CDS, PSD, PS, PCP e BE – os que, em democracia, contribuíram para o estado a que isto chegou. É inequívoco que, após o 25 de Abril, foram alcançadas diversas conquistas. Será apenas estúpido dizer que o País está pior, quando na verdade está muito melhor. Muito, também, pelo fluxo de fundos europeus e pela estabilidade monetária permitida pela adesão ao euro.

Podemos estar satisfeitos por termos evoluído e melhorado as condições de vida dos portugueses e ficar assim, contentinhos, numa reedição do anterior “pobres, mas honrados”. Ou podemos constatar e perceber que o século XXI português está a ser, em termos económicos, um século perdido, um século de desastre. Vinte anos anos deitados fora, no que diz respeito a aproximar os níveis de vida e de bem-estar dos portugueses dos nossos companheiros europeus.

A fonte da informação não podia ser mais insuspeita: é o próprio Governo, nomeadamente o Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia que, no mais recente documento Principais Indicadores Económicos de Portugal”, disponibilizado online a 23 de setembro de 2020, nos fornece a seguinte informação:

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1 – Em 2000, o PIB per capita português em Paridade de Poder de Compra era de 83% da média dos países da União Europeia (EU28). Em 2018, esse valor regrediu para 76,8% (ver quadro e gráfico).


Relativamente a este indicador, aliás, ainda esta semana ficámos a saber, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que o valor afundou ainda mais em 2020, ano em que os portugueses tiveram 76,4% do PIB per capita em Paridade do Poder de Compra face à média dos 28 países da União Europeia.

Assim se percebe facilmente que, em vez de continuarmos a aproximar-nos dos nossos vizinhos da Europa, como devíamos, estamos, ao invés, a regredir para níveis inferiores àqueles em que nos encontrávamos no início do século. Um verdadeiro retrocesso, o afundar num pântano económico. Caímos de 82%, para 76,4%. Uma trágica queda de 5,6 p.p.

2 – Este cenário é ainda mais chocante, quando percebemos que a dívida pública bruta duplicou, de 60% do PIB em 2002, para 117,7% do PIB em 2019.

Conhecemos já, aliás, dados mais actualizados. De acordo com a informação fornecida pelo Banco de Portugal, na sua “Nota de Informação Estatística – Dívida pública” relativa ao segundo trimestre de 2021, este rácio da dívida pública já ascendia, no final de junho, a uns estratosféricos 132,8% do PIB. (2)

3 – Isto, apesar de a carga fiscal também ter escalado de 30,9% do PIB no início do século, para 34,8% em 2020, de acordo com o boletim estatístico do INE relativo à carga fiscal.

Deve notar-se, para que este exercício seja sério, que, neste capítulo da carga fiscal, Portugal ainda se encontra 3,8 pontos percentuais abaixo da média da União Europeia. Isso não invalida, no entanto, as principais conclusões que se podem tirar: com um aumento brutal do endividamento do Estado e um crescimento acentuado da carga fiscal, os portugueses vivem, hoje, ainda assim, bastante pior do que no início do século XXI.

Podemos tentar enumerar diversas causas, procurar múltiplos culpados, argumentar com as mais rocambolescas justificações. Mas os factos, ninguém os apaga: quem nos governa desde o início do século não foi capaz de evitar este cenário desolador.

Votar outra vez nos que nos trouxeram até aqui, insistir em receitas gastas, falhadas, que nos condenam a um crescente empobrecimento relativo, é absolutamente inútil.

A utilidade está, apenas, em procurar novas soluções, uma nova forma de pensar e de atuar. O que é útil é fazer com que todos os portugueses – todos, sem excepção – possam prosperar. A utilidade está em libertar os portugueses do peso cada vez mais sufocante dum Estado omnipresente que os puxa para baixo.

O único voto útil é em quem pensa novo, pensa diferente, sabe que é possível conseguir mais, que é possível muito melhor.

A esperança que ainda mantenho em Portugal reside na vitória da Iniciativa Liberal, na ideia de que um dia a Iniciativa Liberal vai poder governar Portugal. Essa esperança vai ganhar uma nova energia no dia 30 de Janeiro.

Só há um voto útil nas eleições legislativas. Só um voto libertará Portugal e os portugueses. O voto na Iniciativa Liberal. Votar nos mesmos de sempre terá a mesma inutilidade que teve nos últimos 20 anos.