A China celebra na quarta-feira à meia-noite a entrada no Ano da Cabra, com o som dos petardos e o fogo-de-artifício a ‘afugentar os maus espíritos’ e as famílias reunidas à volta da mesa cheia de comida.

É a maior festa da China, equivalente ao natal e ao ‘réveillon’ nos países ocidentais, mas como quase tudo no país, a tradição também está a mudar.

Respondendo à crescente insatisfação popular acerca da poluição, alguns ambientalistas já começaram até a defender o fabrico de “petardos ecológicos”, que não utilizam enxofre e “explodem tão ruidosamente” como os outros.

A própria Gala de Ano Novo da CCTV (Televisão Central da China), “o espetáculo de variedades mais visto do mundo”, transmitido para uma audiência estimada em 800 milhões de espetadores, será diferente.

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Pela primeira vez, um dos apresentadores, Nigermaidi Zechman, pertence à etnia uigure, e o alinhamento da gala inclui um ‘sketch’ alusivo à inédita campanha anticorrupção em curso na China, que já atingiu dezenas de quadros com a categoria de vice-ministro ou superior.

Os uigures constituem cerca de 45% da população do Xinjiang, uma vasta região de maioria muçulmana, rica em petróleo e outros recursos minerais, situada no noroeste da China, que tem sido palco de frequentes atentados terroristas atribuídos pelas autoridades a “extremistas religiosos” e “separatistas radicados no estrangeiro”.

Com Nigermaidi Zechman na ribalta, o tema da gala da CCTV, “Harmonia Familiar gera Sucesso”, ganha uma explícita dimensão étnica.

Para muitos trabalhadores chineses, as folgas, feriados e ‘pontes’ concedidos nesta quadra constituem as únicas férias do ano.

Todas as escolas, do ensino primário ao superior, fecham durante um mês. Funcionários da administração e das empresas estatais param pelo menos uma semana.

Os edifícios são engalanados com lanternas vermelhas, símbolo tradicional de festa.

Cabras de vários tamanhos e feitios ornamentam as lojas e os centros comerciais. Em alguns casos, a meiga cabra aparece a pastar junto a uma árvore de natal, associando duas tradições de consumo.

Outro sinal de mudança, sobretudo entre a nova classe média urbana, muitos chineses optam por viajar para o estrangeiro, nomeadamente para a Europa, aproveitando a acentuada valorização do yuan face ao euro. (Em 2008, um euro valia mais de 11 yuan; hoje, não chega aos sete).

“O negócio aumentou pelo menos 50% e continua a crescer. No caso do turismo para a Europa, além do declínio do euro, houve outra razão: a simplificação do processo de concessão de vistos”, disse um agente de viagens de Pequim.

Cerca de 3.000 voos internacionais suplementares foram organizados este ano “para atender ao aumento de passageiros”, indicou um responsável da Administração Chinesa da Aviação Civil.

Por coincidência, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, que completará 60 anos em julho, nasceu num Ano da Cabra e de acordo com a mitologia, as pessoas correm sempre perigos especiais no ano do seu signo.

O contínuo abrandamento da economia será um dos “perigos”, mas mesmo nas previsões mais pessimistas, o crescimento do PIB chinês em 2015 deverá exceder os 6,5%.

Nas maternidades, pelo contrário, o movimento será maior, devido às mudanças na política de controlo de natalidade aprovadas no ano passado pelo Governo para tentar contrariar o envelhecimento da sociedade.

Os casais em que um dos cônjuges é filho único já podem ter um segundo filho, o que deverá gerar mais um milhão de nascimentos do que os 16,9 milhões registados em 2014.