O cenário mais negro de uma eventual saída da Grécia da zona euro foi estudado pelos economistas do PS, mas não foi com ele que os socialistas contaram para basear as propostas do programa eleitoral. E por isso, o partido admite que se houver uma deterioração das condições pode ser necessário “adaptar” o programa socialista, disse ao Observador uma fonte do partido ligada à construção do programa.

De acordo com o cenário macroeconómico traçado pelo grupo liderado por Mário Centeno, uma saída da Grécia da moeda única levaria a um crescimento de apenas 0,5% do PIB (cerca de um terço do atualmente previsto) e poderia, em último caso, levar a um questionamento da “permanência de Portugal na zona euro e eventualmente poria em causa a própria existência do euro tal como o conhecemos hoje”, lê-se no documento. Mas não foi com base neste cenário que todas as medidas do partido foram apresentadas.

Este foi o cenário mais negro traçado pelos economistas e se se vier a verificar, pode ter uma influência no programa eleitoral: “Uma menor margem orçamental associada a um cenário em que as condições externas da economia portuguesa se deterioram, levaria a uma necessária adaptação do programa do PS”, garante ao Observador fonte do partido.

Em causa pode não estar a existência ou não de uma medida concreta, mas a velocidade na sua aplicação. O cenário macroeconómico traçava a possibilidade de uma crise prolongada na zona euro, “associado a uma eventual saída da Grécia da zona euro”, mas apenas se o rumo da Europa se mantivesse, o discurso que os socialistas querem combater. “Este cenário admite a institucionalização do discurso de que só a austeridade cega pode trazer benefícios futuros, de que os países em dificuldades são os únicos responsáveis pela sua situação de endividamento excessivo (…), de que o crescimento de uns tem sempre que ser feito à custa do empobrecimento de outros. (… ) Esta não é a nossa Europa”, lê-se no documento.

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Mas se esta Europa bater à porta, o PS salienta o impacto negativo, mas para já a reação é de cautela, como disse esta quarta-feira ao Observador o secretário-nacional do partido, João Galamba: “Esta situação não tem impacto nas nossas medidas, pode ter impacto no cenário base, mas não se sabe ainda como se vai desenvolver. Mas não é um impacto num programa de um partido. É um impacto num país e na zona euro”.

As contas fazem-se todas por baixo. No cenário pessimista dos socialistas, o baixo crescimento da economia (os tais 0,5% ao ano acabaria por se traduzir:

  • “Estagnação do consumo privado”;
  • “Um crescimento incipiente do investimento”;
  • “Um crescimento mais reduzido das exportações”;
  • “O crescimento dos preços na economia portuguesa manter-se-ia em níveis reduzidos à semelhança do registado na área do euro”;
  • “O emprego reduz-se cerca de 0,6% a partir de 2017 e, não obstante a redução da população ativa, implica a manutenção da taxa de desemprego em cerca de 13% até 2019”;
  • “Neste cenário, o défice orçamental aumenta de 3.2% do PIB em 2015 para 4.6% em 2019 pressionado pelo aumento da despesa com juros e prestações sociais e pela descida da receita fiscal em linha com a redução da atividade económica e a evolução dos preços e salários”;
  • “A dívida pública manteria uma trajetória ascendente atingindo os 135% do PIB em 2019 (121% do PIB no cenário central inicial)”

Traduzindo politicamente, este cenário a evitar poderia criar uma catástrofe política, económica e social na Europa: “Com o peso da dívida pública a crescer de forma desmesurada poria inevitavelmente em questão a permanência de Portugal na zona euro e eventualmente poria em causa a própria existência do euro tal como o conhecemos hoje”.