O mayor da cidade de Charlottesvile atira culpas para Donald Trump e para a sua presidência na reação ao atropelamento mortal de um grupo de manifestantes que se opunha a uma concentração de grupos racistas e de extrema-direita.

“Há duas palavras que têm de ser ditas vezes sem conta: ‘terrorismo interno’ e ‘supremacia branca'”, referiu o democrata Michael Signer, numa entrevista à CNN. “Foi exatamente isso que vimos este fim-de-semana e simplesmente não vemos nenhuma liderança da parte da Casa Branca.”

Este sábado, o dia em que uma mulher de 32 anos foi atropelada por um homem que tinha ligações a grupos de extrema-direita, Michael Signer já tinha apontado o dedo a Donald Trump e à atual administração. “Eu não vou andar aqui com rodeios (…). Para mim, a culpa de muito o que estamos a ver hoje na América está na Casa Branca e em muitas pessoas à volta do Presidente.”

Donald Trump diz que “ódio, intolerância e violência” parte de “muitos lados”

No sábado, Donald Trump foi criticado pela reação que teve ao incidente de Charlottesville, por não condenar diretamente os militantes da extrema-direita e os supremacistas brancos que se manifestaram naquela cidade do estado da Virginia. “Condeno, da maneira mais veemente, esta demonstração repugnante de ódio, intolerância e violência de muitos lados. De muitos lados”, disse. “Isto passa-se no nosso país há muito tempo. Não é Donald Trump, não é Barack Obama, passa-se há muito, muito tempo.”

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Mais à frente, disse: “Devemos unir-nos como americanos em torno do amor pela nação e da afeição com os outros”.

No final da intervenção, já quando Donald Trump se afastava do pódio, um jornalista perguntou-lhe, de forma clara e audível, se queria o apoio de supremacistas brancos, como os que se manifestaram em Charlottesville. Inicialmente, Donald Trump voltou ao pódio — mas acabou por não responder à pergunta.

Mais tarde, na sua conta oficial de Twitter, Donald Trump partilhou um vídeo da sua intervenção e escreveu: “Temos de nos lembrar disto: independentemente da nossa cor, crença, religião ou partido político, nós somos todos AMERICANOS PRIMEIRO”.

À CNN, o mayor de Charlottesville refere que aquela cidade, tal como a democracia norte-americana, já superou desafios como a segregação e as leis de Jim Crow, que a consagravam. “Temos de nos unir em torno deste novo esforço, e isso começa com uma cidade como Charlottesville, mas também devia incluir o Presidente”, disse Michael Signer.

A manifestação da extrema-direita, que incluía desde membros do Ku Klux Klan até apoiantes da Alt-Right, foi convocada para protestar contra a remoção de uma estátua de Robert E. Lee de um jardim público. Lee foi um general que combateu na Guerra Civil Americana do lado da Confederação sulista, que procurou a secessão do resto da União contra a abolição da escravatura. A decisão de retirar a estátua foi tomada pela assembleia municipal de Charlottesville.

Republicanos querem que Donald Trump chame os bois pelos nomes

No Partido Republicano, há políticos destacados desconfortáveis com a postura de Donald Trump de não-condenação, pelo menos de forma direta, dos manifestantes da extrema-direita e supremacistas brancos de Charlottesville. A maior parte pede a Donald Trump que use expressões “supremacistas brancos” e “atentado doméstico” para classificar a situação — uma exigência semelhante à do atual presidente quando, em junho de 2016, instou Barack Obama a chamar ao atentado de Orlando de “terrorismo extremista islâmico”.

A reação pouco dura contra os movimentos extremistas de direita do presidente foi contrariada pela sua filha. Ivanka Trump deixou um recado claro no Twitter contra os movimentos que estiveram representados em Charlottesville.

Ivanka Trump. Não há lugar para o racismo, a supremacia branca e neonazis

O senador texano pelo Partido Republicano, Ted Cruz, emitiu um comunicado onde dizia: “Os nazis, o KKK e os supremacistas brancos são repugnantes e maléficos e todos temos a obrigação moral de nos insurgirmos contra as mentiras, intolerância, anti-semitismo e ódio que eles propagam”.

Também no Twitter, o senador republicano da Florida, Marco Rubio, instou o Presidente dos EUA a mudar o seu discurso. “[Seria] muito importante para a nação ouvir o Presidente dos EUA a descrever o incidente de Charlottesville pelo que ele é: um ataque terrorista de supremacistas brancos.

As críticas dentro das fileiras republicanas do Senado continuam. Cory Gardner, senador do Colorado, escreveu: “Senhor Presidente — temos de chamar o mal pelo nome. Eles eram supremacistas brancos e isto é terrorismo doméstico”.

Chuck Grassley, senador republicano do Iowa, sublinhou a ideia dos seus colegas de bancada: “O que os ‘supremacistas brancos’ estão a fazer em Charlottesville é terrorismo doméstico que não pode ser tolerado do que aquilo que qualquer extremista faz”.