Apesar de o modo normal de execução na Roma Antiga ser o estrangulamento, da tradição penal da república romana recordamos em particular a Rocha Tarpeia. A Rocha ficava em Roma, não muito longe do Capitólio, e servia para que dela se pudessem fazer despenhar vários tipos de criminoso. Os historiadores informam-nos que tinha a altura de um prédio de sete andares.

Sendo nós de um modo geral contra a pena de morte, coisas das nossas vidas e o esforço de todos os dias ter de lidar com outras pessoas dão-nos motivos frequentes para considerar as vantagens de dotar as comarcas principais de uma rocha tarpeia. As circunstâncias orográficas portuguesas são no geral admiráveis, visto que as cidades mais antigas foram quase todas construídas em cumes; algumas têm mesmo penhas: as obras de adaptação tarpeia parecem nesses casos simples e mais conducentes a tarefas de despenhamento. Lisboa, a capital, está por natureza equipada para a instalação de sete rochas; serão talvez demais para as necessidades, mas o desafogo da escolha permitiria escolher com escrúpulo a que mais conviesse a cada caso.

Os espectáculos das execuções são bárbaros e detestáveis; não passaria pela cabeça de ninguém reinstituí-los. Um método moderno seria o Passeio, conhecido por processo peripatético. O Passeio tem três fases: na primeira, convida-se o executando para dar uma volta; na segunda, conduz-se o executando para a vizinhança da rocha tarpeia da respectiva comarca, tendo sempre o cuidado de chamar a sua atenção para outros aspectos da paisagem (o restaurante japonês, uma veiga, o edifício do tribunal de trabalho), não imediatamente relacionáveis com a penha; na terceira, empurra-se.

Resta naturalmente apurar quem seriam os executandos. Mesmo a um exame perfunctório não faltariam candidatos ao Passeio. Tal abundância poderia no entanto ter repercussões internacionais e criaria problemas logísticos. Entre as alternativas ao Passeio a menos má é o método conhecido por Passeio Mental. No Passeio Mental encaminha-se mentalmente os executandos para a proximidade de uma rocha tarpeia; e depois aplica-se os passos dois e três do processo peripatético, a saber, distracção verbal e empurrão vigoroso. Tem sobre o Passeio a vantagem de poder ser repetido frequentemente, e de se poder despenhar a mesma pessoa muitas vezes, e quase com a mesma alegria.

A proporcionalidade da retribuição, como lembra utilmente Dante, requer em certos casos um castigo constante. No entanto, justamente por razões logísticas, um castigo constante só pode ser aplicado de forma prática por meios mentais; supõe assim o convite aos executandos para um passeio mental, seguido do seu despenhamento reiterado. Pode pois continuar a deixar-se aos tribunais normais e às outras instituições de reinserção social o castigo dos criminosos correntes. Para os casos principais da vida, a que aborrece o cúmulo jurídico e que as considerações de ordem prática não afectam, a Rocha Tarpeia revelar-se-ia um instituto de grande utilidade; a sua reintrodução merece ser objecto de um debate sério.

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