O fantasma de eleições antecipadas na Grécia, após os resultados das europeias, e a ameaça de, na Bélgica, não se encontrar, mais uma vez, um claro vencedor nas eleições legislativas, estão a deixar os investidores nervosos e a provocar novo aumento nos juros da dívida dos países da periferia, com Portugal incluído.

A subida está a fazer-se notar há já quatro dias consecutivos de negociação e, no caso dos juros exigidos pelos investidores para deterem dívida pública portuguesa a 10 anos, já se fixaram no nível máximo desde 11 de março.

Por volta das 13:00, os juros associados a esta linha de Obrigações do Tesouro subiam para 3,924%, mais 0,33 pontos percentuais que a 5 de maio, dia em que a ministra das Finanças foi anunciar ao Eurogrupo que Portugal não iria pedir um programa cautelar para ajudar na transição pós-programa da ‘troika’.

Na dívida a cinco anos, a subida leva os juros aos valores máximos desde 1 de abril, para 2,854%, com a subida face a 5 de maio a revelarse ainda maior: 0,425 pontos percentuais.

Também a dívida a dois anos sofre uma subida semelhante: mais 0,363 pontos percentuais do que o verificado a 5 de maio, atingindo agora os 1,438%, o que representa o juro mais alto em mais de dois meses.

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Itália, Espanha e Irlanda também estão a ser novamente a sofrer o custo dos receios dos investidores na dívida pública que está a ser negociada no mercado secundário.

As justificações dos analistas coincidem todas no receio dos resultados das eleições europeias, que se aproximam.

Na Grécia, o crescimento do Syriza pode ameaçar a consistência da coligação que governa o país. Têm crescido os receios de que o Syriza ganhe força e impeça que a Grécia continue a implementar as medidas de austeridade acordadas com o Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu.

Os analistas temem que a implementação de reformas na Grécia se torne mais difícil a partir de domingo, caso o Syriza ganhe a força que as últimas sondagens lhe têm dado, e mesmo que a coligação governamental possa não aguentar e pedir eleições antecipadas.

Mas não é só a Grécia que está a provocar receios nos investidores. As eleições legislativas na Bélgica, que decorrem este fim-de-semana em paralelo com o voto para as europeias, podem novamente não dar um vencedor claro. Os investidores receiam que se gere novo impasse prolongado, e que deixe a Bélgica sem Governo durante meses.

E, como em todas as questões existem dois lados, o banco de investimento norte-americano Goldman Sachs disse hoje que, no caso de Portugal, um aumento dos juros, que na prática quer dizer também que a dívida portuguesa se torna mais barata e rentável para quem a decide comprar, pode ser uma boa oportunidade para os investidores.

A analista Silvia Ardagna, citada pela Bloomberg, escreveu hoje uma nota onde diz que é melhor esperar pelos resultados das eleições europeias antes de tomar posições longas, ou seja, comprar obrigações como investimento até à maturidade, e não para negociação, mas que, ainda assim, as europeias em Portugal não devem trazer grandes mudanças.

A liderança do PS nas sondagens, diz o banco, não é preocupante. Em primeiro lugar, porque as legislativas são apenas no final do próximo ano. Depois, porque considera que, “caso a oposição chegue ao poder, é provável que continue empenhada numa agenda semelhante, apesar de poder discordar em algumas medidas específicas”.