Uma lesão axonal difusa. Foi isto que Jules Bianchi sofreu no domingo, quando, ao volante de um monolugar de Fórmula 1, embateu numa grua que estava à beira da pista do circuito de Suzuka, no Japão. Explicando, o piloto francês, de 25 anos, luta agora contra um dos mais graves tipos de traumatismo craniano, enquanto está internado no hospital de Mie, em Yokkaichi.

A informação foi revelada na tarde desta terça-feira pela Marussia, escuderia à qual pertence o gaulês. Em comunicado, redigido pela família, a equipa informou que Bianchi “permanece na unidade de cuidados intensivos” do hospital japonês, estando em “estado crítico, mas estável”.

Este tipo de lesão no crânio refere-se a danos causados nos neurónios e fibras nervosas por movimentos de aceleração ou desaceleração da cabeça. Além de grave, é uma lesão “muito pouco frequente”, garantiu o neurocirurgião Gonçalves Ferreira, a quem o Observador pediu que explicasse a natureza do traumatismo sofrido por Jules Bianchi. “Acontece quando há um impacto com força cinética muito elevada” e, mesmo que não se verificam fraturas no crânio, “microscopicamente pode ocorrer a rotura de muitas fibras e células nervosas”.

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Essas lesões, prosseguiu o médico do Hospital Santa Maria, em Lisboa, até são “pouco visíveis” numa fase inicial, quando se efetuam exames TAC (Tomografia Axial Computorizada) ou ressonâncias magnéticas, devido ao seu “tamanho microscópico”.

“Isto tem um prognóstico muito mau”

O acidente, ocorrido no domingo, durante a 43.ª volta ao circuito de Suzuka, no Grande Prémio do Japão, aconteceu quando Jules Bianchi perdeu o controlo do seu monolugar, saiu de pista, e embateu contra uma grua que estava junto à barreira de pneus. “Pelas imagens vê-se logo que um incidente bastante grave, uma coisa terrível”, avaliou o Gonçalves Ferreira.

Estima-se que o carro do piloto francês tenha saído de pista a uma velocidade a rondar os 200 quilómetros por hora, e que tenha embatido no trator que segurava a grua com uma força de cerca 50G’s — ou seja, cinquenta vezes superior à força da gravidade. O gaulês continua nos cuidados intensivos e o neurocirurgião português lamentou que, na maioria dos casos, as lesões “ficam muito dispersas no cérebro” e que, a curto-prazo, Bianchi deverá ficar com “algumas deficiências nas funções nervosas superiores” — como o raciocínio, a memória ou a capacidade crítica.

Isto caso o piloto “sobreviva”. O neurocirurgião lembrou que Jules Bianchi é “uma pessoa nova [25 anos], em excelente estado físico, e à partidas as possibilidades de recuperação são sempre melhores” do que uma pessoa “mais velha”. Gonçalves Ferreira minimizou as hipóteses de o francês vir a ficar com alguma paralisia motora e localizada. “Serão sobretudo lesões a nível do funcionamento global do cérebro”, concluiu, numa altura em que mais nada se sabe acerca do estado clínico de Bianchi.

No comunicado emitido esta terça-feira, a família de Bianchi agradeceu a Gérard Sallaint, cirurgião francês que se deslocou a Yokkaichi para acompanhar a recuperação do piloto, e a Alessandro Frati, outro médico, italiano, que também está no Hospital de Mie. Ambos o fizeram para “serem informados da situação clínica” de Jules Bianchi de modo a “aconselharem a [sua] família”.

A família do gaulês agradeceu ainda “todas as mensagens de apoio”, vindas “de todo o mundo”, que têm servido de “grande conforto” numa altura muito difícil.