Quando se morre, as opções são poucas. Normalmente, os cadáveres são enterrados ou cremados. A história termina aqui? Não. Com o novo livro de Bess Lovejoy, Rest in Piece [Descansem em Paz, em tradução livre] descobre-se que os restos mortais ainda podem protagonizar muitas histórias. Bess reuniu histórias mais ou menos conhecidas de cadáveres de gente célebre e o site All That Is Interesting conta algumas.

Primeiro exemplo? A história do corpo do imperador Napoleão Bonaparte, conhecido pela sua altura reduzida que deu que falar durante a autópsia. Aparentemente, o responsável pela tarefa apercebeu-se de que o tamanho do seu pénis era também pequeno medindo aproximadamente quatro centímetros. E, curiosamente, achou que seria um bom presente para um padre, na Córsega. Hoje, pertence a Evan Lattimer, filho de um urologista.

Napoleão não foi o único a quem, durante a autópsia, retiraram partes do corpo para oferendas. O médico que tratou do corpo de Einstein quis ficar com o bem mais precioso do físico – o cérebro – que cortou em vários pedaços e distribuiu pelos elementos do seu laboratório e pelos de outros colegas. Também os olhos daquele que é considerado um dos homens mais inteligentes da humanidade foram preservados fora do corpo e oferecidos ao oftalmologista que o tratava em vida, Henry Abrams. Sabe-se que ainda hoje os olhos estão conservados e escondidos numa caixa forte em Nova Iorque.

Mata Hari também é um caso. Faz parte do imaginário de muitos homens franceses. Há cem anos era a dançarina exótica mais famosa e requisitada em Paris. O seu nome verdadeiro era de origem alemão – Margaretha Zelle – e talvez isso tenha exacerbado a ideia de que Mata Hari era uma espia ao serviço da Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. Bastou a intercessão de uma mensagem suspeita e em código do exército germânico para que fosse executada em 1917. Não tendo o seu corpo sido reclamado por nenhum membro da família, acabou por ser doado ao Museu Parisiense de Anatomia onde a sua cabeça esteve exposta durante vários anos. Mais recentemente, em 2000, descobriu-se que a cabeça havia desaparecido sem se saber a atual localização, mas estima-se que tenha sido retirada em 1954, quando da relocalização do museu.

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Não é só a história de França que conta com cabeças perdidas. Também em Inglaterra uma cabeça esteve exposta. Quando morreu o Rei Carlos I, executado em Whitehall, Londres, Oliver Cromwell que tomou as rédeas do poder até 1658, data da sua morte. Embora não pertencesse à família real, o lugar que ocupava deu-lhe direito a um funeral com honras reais, tendo sido depositado na Abadia de Westminster até 1660, data que marca o regresso na monarquia, com a subida ao trono de Carlos II, filho do monarca enforcado frente à Banqueting House. É nessa altura que é feita a exumação do corpo de Cromwell que foi exposto em praça pública com exceção da cabeça. Carlos II tinha um projeto bem mais dramático para esta parte do corpo do seu inimigo: pendurou-a a 20 metros de altura no topo de Westminster. Em 1685, uma forte tempestade fez com que a cabeça caísse e se tornasse propriedade de várias pessoas sem se saber o seu atual paradeiro.

A localização atual do corpo de Lenine não deixa margem para dúvidas. Pode ser visitado num mausoléu, em Moscovo, na Praça Vermelha, erigido em sua homenagem. Mas o que por vezes não se sabe é que o seu corpo do líder soviético só foi embalsamado dois anos depois da sua morte estando já alguns tecidos num estado crítico de decomposição. Ninguém sabe qual foi o processo usado e a solução química aplicada tem uma receita secreta. De tal maneira que vários visitantes acreditam que o ‘líder’ só se encontra a dormir, havendo relatos de pessoas que o viram a respirar ou a mexer as pálpebras.

Há, ainda, a história de Luís XIV, o monarca que esteve no poder mais tempo, durante 72 anos e 110 dias. A curiosidade nesta morte é o facto de o coração do Rei francês ter sido comido pelo geólogo e zoólogo William Buckland. A vontade do cientista era a de conseguir morder todas as criaturas à face da terra. Na noite do repasto, o coração foi servido numa bandeja de ouro e comido de um travo só, uma vez que, devido à passagem dos anos, já só apresentava o tamanho de uma noz.