Os bancos da zona euro estão a emprestar mais às empresas e famílias. Pelo terceiro trimestre consecutivo, a sondagem que o Banco Central Europeu (BCE) divulga sobre a atividade de crédito mostra que está a haver um aumento da procura e, também, uma maior apetência dos bancos por conceder crédito. Numa semana que pode ser histórica para a zona euro, o indicador vem dar força àqueles que recomendam calma e que se opõem a que o BCE anuncie um plano de injeção de liquidez através da compra de dívida pública. Será que a zona euro precisa, mesmo, que Mario Draghi anuncie um programa inédito de estímulo ao crédito e combate à inflação baixa?

“Os requisitos para conceder crédito em todas as categorias continuaram a aliviar-se, em termos líquidos, no quarto trimestre de 2014”, pode ler-se na sondagem divulgada esta terça-feira pelo BCE. “Entre os maiores países, os requisitos aliviaram sobretudo em Itália e, em menor medida, em França, mantendo-se inalterados na Alemanha e em Espanha e continuando a tornar-se mais apertados na Holanda”, assinala a equipa de economistas que preparou o relatório a partir das informações prestadas pelos bancos do eurosistema.

Segundo o relatório, houve no quarto trimestre mais bancos (18%) a indicarem um aumento da procura por crédito do que a darem conta do contrário, ou seja, de uma redução da procura. No trimestre anterior, esse saldo também tinha sido positivo mas em apenas 6%. Por outro lado, mais bancos estão também a sinalizar requisitos mais baixos no crédito às famílias (4% contra 2% no terceiro trimestre) e no crédito às empresas não financeiras (5% no quarto trimestre, contra 2% no trimestre anterior).

A contração do crédito tem sido uma regra desde maio de 2012. Quando os bancos emprestam menos, têm menos ativos para depois entregar junto do banco central para receber nova liquidez. Esta situação leva a que o banco central tenha um balanço cada vez menor, o que, por sua vez, tem consequências como uma tendência para a valorização da moeda única e a descida da inflação, que está a tornar-se um problema cada vez mais grave para Mario Draghi.

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É, precisamente, para contrariar esta redução do balanço do banco central que o BCE passou a taxa de juro para mínimos históricos, que lançou em junho programas de compra de dívida privada e que – acredita-se – irá lançar um programa de expansão monetária na próxima quinta-feira, dia da próxima reunião do Conselho de Governadores. Para compreender melhor do que se trata, leia o Explicador que o Observador preparou.

Nesta fase, em que parece inevitável que este programa controverso seja lançado, “estes dados vêm mostrar que o ambiente no crédito está a melhorar lenta mas continuamente“, escreve o economista Teunis Brosens, do banco holandês ING, em nota enviada aos clientes. Alguns economistas e membros do Conselho de Governadores do BCE, com destaque para o governador alemão Jens Weidmann, têm recomendado calma ao BCE, avisando que a inflação baixa que se vive neste momento será transitória e que não são necessárias medidas adicionais para fazer com que a taxa de inflação se aproxime, gradualmente, do objetivo (de 2%).

“Esta sondagem animadora não irá, na nossa opinião, evitar que o BCE anuncie um plano geral de expansão monetária na quinta-feira”, diz Teunis Brosens, do ING. Aqueles que estão contra a introdução de mais estímulos, conhecidos na gíria dos mercados como “falcões” (hawks), “estão a travar uma batalha perdida”. Os dados divulgados esta terça-feira parecem indicar que as medidas de estímulo já anunciadas estão a ter algum efeito, mas isso não significa, necessariamente, que se possa dizer que já não são necessários mais estímulos. Até porque há muito que os mercados financeiros tomaram como um dado quase adquirido que estes estímulos adicionais virão, pelo que se isso não acontecer, algum deste otimismo pode inverter-se. Por outras palavras: Mario Draghi já não precisa de lançar mais estímulos, ou não tem como fugir a eles?