O governo de Atenas veio hoje esclarecer que nunca o ministro das Finanças admitiu referendar a saída da Grécia da zona euro quando foi entrevistado pelo jornal italiano Il Corriere della Sera. Um porta-voz do governo grego, Gabriel Sakellaridis, citado pela agência financeira Bloomberg, referiu não existir qualquer fundamento nessa intenção, afastando a possibilidade da realização de um referendo sobre a saída ou manutenção da Grécia na zona euro.

Gabriel Sakellaridis adiantou que, na entrevista dada por Yanis Varoufakis ao diário italiano, tinham sido mal interpretadas as declarações, porque o jornal acrescentou entre parêntesis a palavra euro. O ministro das Finanças grego explicava na entrevista que se Bruxelas não aceitar o plano proposto pela Grécia “poderiam existir problemas”.

“Como já tinha dito o primeiro-ministro (grego, Alexis Tsipras), não estamos colados aos cargos. Podemos realizar de novo eleições. Podemos convocar um referendo”, adiantou Varoukafis. O porta-voz Gabriel Sakellaridis afirmou que, apesar das declarações, um referendo à política imposta pelos parceiros europeus ou convocação antecipada de eleições é um cenário pouco provável já que Atenas espera chegar a acordo com o Eurogrupo.

Na entrevista, o titular das Finanças recusou a possibilidade de que o Governo grego venha a pedir um novo empréstimo aos parceiros europeus porque, defende, o que os gregos querem é que a UE e a Grécia alcancem um acordo que lhe permita “crescer e terminar com a crise humanitária” que sofre. Neste sentido, o ministro insiste que o Executivo está a trabalhar para propor a Bruxelas um plano que denomina “contrato para o crescimento” baseado num “foco fiscal razoável”.

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Este “contrato” deverá estar fundamentado, segundo Varoufakis, em três pilares, designadamente, “um excedente do Orçamento revisto, uma reestruturação inteligente da dívida e um plano de grandes investimentos”. Em relação à reestruturação “inteligente” da dívida, uma opção que o Eurogrupo não contempla, Atenas considera essencial “aumentar os prazos de vencimento dos pagamentos e uma diminuição das taxas de juro”.

“O que é isto senão uma reestruturação? A alternativa que propomos não tem como objetivo de que outros países paguem a nossa dívida, mas mais, propomos remunerar mais os empréstimos”, adiantou. Isto consegue-se, adianta Varoufakis, com “a substituição dos títulos da dívida atuais por outros vinculados ao crescimento nominal”, ou seja, “se o país cresce, paga uma taxa de juro mais alta, se não cresce, paga menos”.

Em relação ao excedente do Orçamento revisto, o ministro comenta que estará associado ao investimento, já que “quanto maior seja o investimento, mais excedente haverá”. E para que isto ocorra, o ministro sublinha que é essencial o papel que deve desempenhar o Banco Europeu de Investimento (BEI), que defende que deveria potenciar “para que os investidores ajudem a desenvolver bons projetos”.

Finalmente, Varoufakis dirige duas críticas contra a Europa, em primeiro lugar, lamenta que nos últimos anos “se tenha posto todo o peso nas costas das classes mais pobres” e posteriormente condena o eterno debate sobre se a Grécia sairá ou não da zona euro. “Quem investirá na Grécia se se fala continuamente de ‘Grexit’ (jogo de palavras entre Grécia e “exit” em inglês que significa saída). “Falar sobre ‘Grexit’ é venenoso”, conclui o ministro grego.