Quando, no início do ano, o país despertou para o problema da hepatite C, com a morte de uma doente no Egas Moniz e a recusa do Governo em pagar cerca de 40 mil euros por cada tratamento, ninguém sabia que Rui Reininho estava na lista de doentes. A revelação foi feita este domingo pelo vocalista dos GNR, num artigo publicado na Notícias Magazine, distribuída no DN e no JN, a propósito do lançamento do novo álbum, Caixa Negra. Hoje, a caixa já não é assim tão negra.

“Eu sabia que teria de haver um mártir para haver um desfecho. Sabia que podia ser eu. Foi aquela senhora no Egas Moniz”, lamentou a voz de “Pronúncia do Norte”. “Estava completamente borderline” (no limite), fronteira entre viver ou morrer. Precisava urgentemente de um transplante de fígado e não estava na lista. Os médicos diziam-me que se não parasse podia ter uma síncope em palco e cair para o lado”. O medicamento pelo qual tantos doentes batalharam, podia vir ou não vir.

A farmacêutica norte-americana Gilead, detentora da patente do tratamento, recuou no preço e um acordo foi possível. Rui Reininho fez 60 anos a 28 de fevereiro e o medicamento chegou 20 dias antes do aniversário. O músico do Porto contou que está a resultar e os indicadores da doença recuaram pela primeira vez em 26 anos. “De um milhão de estirpes passou a zero”, disse. O que significa que o transplante já pode esperar.

O vocalista dos GNR recordou o episódio caricato em que abandonou o programa “The Voice”, em julho, quando a apresentadora Catarina Furtado não lhe deu a palavra. A produtora na altura justificou a saída a meio do programa com o número de horas de trabalho acumulado. O imprevisível Reininho contou agora que o peso provocado pela ameaça constante de morte foi o verdadeiro culpado. “Daí a minha impaciência no programa e aquele comportamento um bocadinho desesperado”, explicou.

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“Apanhei um susto. Os médicos disseram-me que tinha de repousar, fazer uma revisão, havia suspeitas de tecidos estranhos, malignos, tinha de tomar providências. Chegou a colocar-se a hipótese de quimioterapia e coisas assim. De repente, vejo-me com entrada aberta para o IPO, e isso é outro campeonato, não é? Só pensei: vale a pena continuar com isto? É assim que quero viver o resto dos dias que me faltam?”, disse.

Enquanto o Governo não disponibilizava o medicamento, o músico recordou que começou a ler tudo sobre a falência dos órgãos, a preparar-se , a preparar os colegas de banda, Tóli César Machado e Jorge Romão, e a preparar o filho, de 18 anos, para a morte.

“Quis gravar o disco depressa porque tinha medo de não chegar a pegar fisicamente nele. (…) Pensava: vivi até agora. É mais do que suficiente, porque é tudo relativo e relativamente eu vivi de forma mais acelerada do que a maioria das pessoas”.