Depois de ter sido amplamente noticiado que o primeiro-ministro britânico, David Cameron, pediria a demissão aos ministros do seu executivo que fizerem campanha por uma saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o responsável máximo pela política daquele país desmentiu essa ideia.

“É claro para mim que o que eu disse ontem foi mal interpretado. Eu referi-me claramente ao processo de renegociação”, disse Cameron à imprensa na segunda-feira à tarde. “Eu sempre disse que o resultado que eu pretendo é que o Reino Unido permaneça numa União Europeia renovada. Mas eu também disse que não sabemos o que é que vai sair destas negociações, e por isso é que eu disse que não ponho nenhum hipótese de lado.”

Uma porta-voz do governo britânico referiu ao jornal The Guardian que as palavras de Cameron foram mal interpretadas e que a sua mensagem era outra: “O primeiro-ministro não declarou a sua posição. O primeiro-ministro estava claramente a falar da responsabilidade colectiva durante a renegociação.”

Durante a campanha que antecedeu as eleições de 7 de maio, David Cameron prometeu a realização de um referendo à permanência do Reino Unido na UE até ao final de 2017. Até lá, o primeiro-ministro conservador pretende renegociar as condições do seu país na comunidade europeia. E é para esta renegociação que Cameron conta com os seus ministros.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A declaração que esteve na origem das notícias de segunda-feira de manhã foi feita no domingo, na qual Cameron terá dito que foi muito claro com os seus escolhidos para o seu segundo Governo: “Se querem ser parte do governo, têm de adotar a visão de que estamos empenhados num exercício de renegociação, termos um referendo e isso irá permitir uma conclusão com sucesso [do processo]”.

Com a Rússia no topo da agenda, e a Grécia como principal assunto lateral, a convocação de um referendo sobre a participação do Reino Unido na União Europeia, anunciada por David Cameron após as eleições onde conseguiu uma maioria absoluta para os conservadores, não deixou de estar entre as preocupações dos líderes do Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, que se reúnem em Krun, na Baviera.

David Cameron tem defendido publicamente que quer que o Reino Unido permaneça na União Europeia, mas com novas condições, mais vantajosas para os britânicos. Ao contrário de Harold Wilson, primeiro-ministro britânico entre 1974 e 1976 e que permitiu que os conservadores pudessem fazer campanha pelos dois lados no referendo à participação no Mercado Único em 1975, David Cameron terá dito que espera que “todos no Governo” façam campanha pelo mesmo lado.

Esta posição surge numa altura em que algumas fações mais conservadoras do partido se estão a juntar para fazer campanha contra a participação na União Europeia. No domingo, mais de 50 deputados dos conservadores britânicos formaram um grupo com um alerta a Cameron, de que iriam defender a saída da UE se David Cameron não conseguir “acabar com a supremacia da lei da União Europeia sobre mais matérias da vida britânica”.

O líder da diplomacia britânica, Philip Hammond, também já recusou os planos de alguns deputados conservadores britânicos para criar uma comissão do Parlamento britânico que tivesse poder de veto unilateral sobre qualquer matéria relacionada com a lei europeia.

“Isso não é exequível, isso não é negociável, porque seria efetivamente o fim da União Europeia”, disse em declarações à BBC.