O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, manifestou este domingo confiança em que a Alemanha mantenha a “posição muito aberta” no que diz respeito ao acolhimento de refugiados, no dia em que aquele país decidiu reintroduzir o controlo na fronteira com a Áustria.

Questionado sobre se a atitude do Governo alemão não significa um retrocessso, o líder do PSD e primeiro-ministro respondeu: “Eu espero que não seja. E tenho quase a certeza que não é assim. A Alemanha tem neste caso como todos os países europeus uma posição muito aberta para poder fazer o acolhimento desses refugiados. E repare que estávamos a falar em acolher aproximadamente 40 mil até aqui há algumas semanas, e já estamos nesta altura a falar na possibilidade de acolher até 200 mil. Os países têm vindo a preparar-se para acolher muito mais refugiados do que aquilo que se pensava ser necessário há algumas semanas atrás”.

Passos Coelho referiu, em Águeda, que “é natural que, por razões de segurança, seja necessário proceder a medidas temporárias que nos permitam identificar as pessoas e preparar o seu acolhimento”.

O primeiro-ministro português sublinhou ainda a importância dos países “se preparem devidamente” para receberem os refugiados. Segundo Passos Coelho, os países “têm de saber quem eles são e têm de os saber encaminhar também de acordo com aquilo que são as suas preferências”.

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Passos Coelho acrescentou ainda que a responsabilidade de averiguar se a Alemanha está a cumprir o acordo de Schengen pertence à Comissão Europeia.

António Guterres, Alto-comissário da ONU para os refugiados, afirmou este domingo ter “esperança que amanhã no Conselho Europeu se dê passos muito positivos”. “Deve haver uma resposta coletiva da Europa e espero que amanhã se dêem passos positivos para isso”, disse aos jornalistas, em Lisboa.

Para o comentador e ex-líder do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, a Europa “está a ter dificuldade em definir uma posição comum” sobre os refugiados. “A Europa não estava preparada. Não estava a ver o filme”, disse, na TVI, elogiando a posição até aqui “generosa” da Alemanha. O social-democrata prevê que ainda seja preciso uma cimeira europeia extraordinária só para tratar da crise dos refugiados e alerta para os riscos de xenofobia na sociedade europeia. “Há pessoas que podem achar que isto é uma invasão terrorista incontrolável”, lamentou.

Já o eurodeputado do PCP João Ferreira criticou a reintrodução do controlo das fronteiras por parte da Alemanha e da República Checa, considerando que “desmascara a hipocrisia” da União Europeia face à crise dos refugiados.

“Esta decisão vem, em primeiro lugar, desmascarar a hipocrisia do discurso sobre uma suposta resposta humanitária da União Europeia à crise dos refugiados”, afirmou o eurodeputado comunista, acrescentando que “esta decisão deixa a nu a verdadeira natureza dessa resposta, a natureza desumana dessa resposta, a verdadeira natureza da União Europeia”.

João Ferreira falava aos jornalistas à margem de um comício da Coligação Democrática Unitária (PCP-PEV), que decorreu em Loures, acerca da decisão da Alemanha e da República Checa, anunciada hoje, de reintroduzirem o controlo das fronteiras devido à crise dos refugiados.

Na opinião do comunista, esta decisão mostra que “um após outro, todos aqueles que foram proclamados como os grandes princípios da União Europeia vão caindo por terra”.

“Esta não é a Europa da livre circulação de pessoas, sempre foi e é a Europa da livre circulação de mercadorias e capitais, subordinando tudo o resto ao interesse das grandes potências”, declarou.

O eurodeputado criticou também a forma como a decisão foi tomada pela Alemanha, que “não ouviu parceiros nenhuns, limitou-se a tomar a decisão que entendeu tomar”. João Ferreira reiterou a posição do PCP sobre a crise dos refugiados, afirmando que “de acordo com as condições e as possibilidades, devem ser criadas condições para colher refugiados”.