O realizador italiano Nanni Moretti apresenta nesta sexta-feira em Portugal a longa-metragem “Minha mãe”, uma ficção sobre vida e morte, com um travo autobiográfico, mas para o autor, o cinema não ajuda a fazer lutos. “Minha mãe”, que só chegará às salas de cinema no dia 26, é apresentado hoje, em três sessões, em Lisboa e no Estoril, na abertura do Lisbon & Estoril Film Festival, no qual Nanni Moretti é um dos realizadores convidados.

O filme “tem um experiência realmente vivida”, afirmou o realizador, num encontro com jornalistas, hoje à tarde no Estoril, referindo-se à morte da mãe, quando fazia “Habemus Papam”. “Mas se pergunta se o filme ajudou a fazer o luto, a resposta é não. Para mim o cinema não é uma autoterapia”.

“Faço filmes com as minhas obsessões, tiques e manias, mas não muda nada”, afirmou. Tal como acontece em produções anteriores, Nanni Moretti também participa como ator em “Minha mãe”, mas projeta algumas das suas característcias noutra personagem – uma mulher – que na história interpreta o papel de irmã. Margherita é realizadora, prepara um novo filme e ao mesmo tempo lida, juntamente com o irmão, com a morte iminente da mãe.

“Achei muito interessante fazer este curto-circuito, dar-lhe [à personagem Margherita] características de um homem. (…) Percebi que tinha mais distância e lucidez para contar uma história se escolhesse personagens femininas”, explicou.

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“Minha mãe” esteve em competição no festival de Cinema de Cannes, onde recebeu o prémio ecuménico. Nanni Moretti volta a filmar um drama, à semelhança de “O quarto do filho”, depois de ter feito filmes mais marcados pelo contexto político e social, como “O caimão” e “Habemus Papam”.

No novo filme, Nanni Moretti faz ainda uma referência ao cinema do realizador alemão Wim Wenders – em particular ao filme “As asas do desejo”. Wim Wenders é outro dos convidados do LEFF e momentos antes também tinha estado à conversa com os jornalistas portugueses.

“Ele é um grande mestre dos realizadores da minha geração. Experimenta sempre, nunca está satisfeito com o seu trabalho, vai sempre além disso. E faz uma coisa importante que é alternar o que é ficção com o que é documentário”, disse. O LEFF, que começou hoje, prolonga-se até ao próximo dia 15 em vários espaços de Lisboa e do Estoril.