Numa altura em que a França pede uma aliança internacional para combater o Estado Islâmico, Rússia e Estados Unidos trocam acusações. A visão para a Síria entre os dois é diferente e isso tem dificultado a aproximação ou mesmo a apresentação de uma solução conjunta. Este domingo, depois de Obama ter dito que a Rússia tem de fazer uma “escolha estratégica” por causa de Bashar al-Assad, o primeiro-ministro russo respondeu, dizendo que o fortalecimento do Estado Islâmico se deve à “política irresponsável” dos Estados Unidos.

Foi a reação de Dmitri Medvedev às palavras de Barak Obama, durante a cimeira da Associação de Naçãos do Sudeste Asiático (ASEAN) em Kuala Lumpur, Malásia. Disse o russo que “o fortalecimento do Estado Islâmico foi possível, entre outras coisas, pela política irresponsável dos Estados Unidos”.

Para o primeiro-ministro russo, “em vez de centrar todos os esforços na luta contra o terrorismo, os Estados Unidos e seus aliados optaram por lutar contra o presidente da Síria, Bashar al-Assad, eleito legitimamente”. Ora é precisamente aqui que os dois lados não se entendem. Os Estados Unidos, bem como a França defendem a saída do presidente sírio do poder. Obama insistiu hoje no assunto dizendo que “não é concebível que o Assad possa recuperar a legitimidade num país onde a grande maioria o despreza”. E insistiu que não vai parar de lutar enquanto ele estiver no poder.

Obama voltou a pedir hoje à Rússia para mudar de estratégia e centrar os seus bombardeamentos aéreos na Síria em posições do Estado Islâmico e não em milícias rebeldes que querem derrubar Assad, aliado de Moscovo. Ora só se o fizer, a Rússia poderá ser “um parceiro eficaz”, disse Obama.

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Apesar de na semana passada terem saído algumas notícias que davam conta de uma aproximação de posições, nomeadamente com a existência de um período de transição até à saída de Assad da presidência síria, este fim de semana, os dois blocos parecem ter-se distanciado. Disse Medvedev que  “uma política razoável de qualquer país, incluindo os Estados Unidos, no Médio Oriente, seja Síria, Egipto ou Iraque, deve consistir em apoiar as autoridades legítimas capazes de garantir a integridade estatal e não em estragar tudo”.

Mas mais duro que isso, Medvedev andou para trás no tempo e acusou os Estados Unidos de fortalecerem outros grupos terroristas. “Há algum tempo os Estados Unidos permitiram o fortalecimento da Al-Qaida, o que levou à tragédia do 11 de setembro”, acusou.

O presidente russo, Vladimir Putin, viaja na segunda-feira para Teerão, para se reunir com Hassan Rohani, líder do Irão, outro dos líderes que apoia Assad. A visita terá lugar dias antes de uma deslocação a Moscovo do presidente francês, François Hollande, na quinta-feira, no âmbito dos esforços para tentar formar uma coligação alargada contra o grupo Estado Islâmico, responsável pelos atentados de Paris, que causaram 130 mortos e mais de 300 feridos.