A empresa estatal russa Gazprom cortou o fornecimento de gás à Ucrânia às 7h00 de hoje por falta de pagamento, reabrindo mais um capítulo numa disputa entre Moscovo e Kiev que já leva mais de dez anos, e que coloca mais uma vez em risco o fornecimento de gás à Europa.

Segundo o presidente da Gazprom, a empresa ucraniana Naftogaz já tem todo o gás pelo qual pagou e por isso não receberá mais enquanto não pagar. Como não foi feito nenhum novo pagamento à cabeça, a empresa russa decidiu interromper o fornecimento de gás à Ucrânia.

Alexei Miller fez ainda questão de sublinhar que a recusa ucraniana de pagar pelo fornecimento de gás vai colocar “sérios riscos” ao fornecimento de gás à Europa, isto porque cerca de um quarto do gás consumido na Europa é de origem russa e a grande maioria do gás que os russos vendem à Europa passa pelos gasodutos ucranianos, ainda da era soviética.

A Alemanha é o país que mais depende do gás russo na Europa, mas em pior condição está a Turquia, que é o segundo país que mais gás compra à Rússia, e a Rússia é o seu principal fornecedor, numa altura em que as relações entre os dois países estão muito tremidas. As forças turcas abateram um avião russo na Síria esta terça-feira, acusando-o de violar o seu espaço aéreo. Putin acusou os turcos de serem cúmplices dos terroristas.

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Devido à sequência de crises entre as duas maiores empresas de fornecimento de gás russo e ucraniano, a Rússia disse que queria acabar com o transporte de gás para a Europa através da Ucrânia até 2018, mas o plano era construir um gasoduto que passaria pelo mar negro até à Turquia, entregando o gás à Europa entre a Turquia e a Grécia.

A disputa é antiga e já levou a vários cortes no fornecimento de gás à Ucrânia, que acontecem sempre perto ou no inverno, quando o combustível é de especial importância. Os russos acusaram por várias vezes a empresa ucraniana de roubar gás que deveria seguir para a Europa, não pagar as suas contas normais e o gás que alegadamente rouba.

Uma das maiores disputas aconteceu em 2005, com os russos a acusarem os ucranianos de desviarem o gás que tinha como destino a Europa para uso doméstico e não pagar. A Naftogaz acabou por admitir o desvio, mas a disputa manteve-se pelos custos de transporte e pelo preço do gás natural.

As duas empresas voltaram a lutar nos anos seguintes – e quase todos os anos. Em 2010, por exemplo, a Ucrânia queria reduzir as compras de gás, devido a menores necessidades da sua economia (que estava em recessão), mas a Gazprom exigiu que comprasse a mesma quantidade gás e que honrasse o contrato, mesmo sem necessitar.

O fornecimento de gás à Europa pela gigante russa foi interrompido pelo menos duas vezes na época passada. Mais afetados por este corte têm sido Bulgária, Grécia, Macedónia, Roménia, Croácia e Turquia.

Desde 2010 que o acordo entre as duas empresas mudou. A Gazprom só distribui gás à Ucrânia se a Naftogaz fizer pagamentos à cabeça. Sem isso, o fornecimento de gás é cortado.