As medidas de estímulo monetário anunciadas pelo Banco Central Europeu (BCE) foram reforçadas na quinta-feira, ainda que não tanto quanto os investidores esperavam e, também, não tanto quanto Mario Draghi desejava. Mesmo com este reforço, contudo, “o programa de estímulos monetários terá um impacto limitado na economia real“, diz um dos mais destacados economistas dos bancos de investimento da City londrina.

Alberto Gallo, responsável pela estratégia macro do Royal Bank of Scotland (RBS), lamenta em artigo de opinião no Financial Times, que “a bazuca do BCE enfrenta uma parede de obstáculos”. A saber:

  • Um sistema bancário atolado e com movimentos presos devido ao bilião de euros em crédito malparado que entope os balanços das instituições financeiras;
  • Falta de investimento empresarial, que não será estimulado apenas com taxas de juro baixas, diz Alberto Gallo;
  • Mercados de capitais pouco profundos, que impede que a liquidez financeira que o BCE tem injetado de forma abundante chegue às Pequenas e Médias Empresas, que são responsáveis por 80% da criação de emprego na Europa, diz o economista do Royal Bank of Scotland.

“Os estímulos monetários são necessários mas não são suficientes, como disse Draghi no início deste ano”, quando anunciou o programa inédito de compra de dívida pública por parte do BCE. Alberto Gallo reconhece que o programa de quantitative easing (expansão monetária) tem tido “algum sucesso até agora”, mas isso deve-se, sobretudo, ao seu efeito de desvalorização do euro, que ajuda as exportações.

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Alberto Gallo é responsável pela estratégia macro em mercado de dívida do Royal Bank of Scotland.

O principal problema na zona euro continua a ser, defende Gallo, que “os bancos da zona euro não estão a emprestar“. Apesar de o BCE ver melhorias no crédito na união monetária, o economista do RBS sublinha que “os volumes de crédito concedido a empresas não-financeiras estagnaram na comparação homóloga, depois de um salto no primeiro trimestre”. Isso acontece porque os bancos continuam entupidos com crédito malparado que lhes prende os movimentos e limita o risco que estes podem assumir com novas operações.

Segundo problema, na opinão de Alberto Gallo, é a falta de investimento empresarial, uma rubrica que caiu 20% desde a crise, diz o RBS. “Porque é que as empresas não estão a investir? Porque as decisões de investimento não se baseiam nas taxas de juro [que o BCE tem vindo a fazer cair], como mostra um estudo do MIT e a experiência empírica.

A resposta está naquilo que têm feito Irlanda e Espanha: “incentivos ao investimento e reformas estruturais”. O que não impede que haja um “esforço coordenado” de investimento público na União Europeia. Mas a prioridade deve ser uma redução de impostos para as empresas e outros incentivos – e é importante que estes sejam integrados num plano duradouro e claro. “Onde os incentivos são complexos e em constante mutação, como em Itália, eles falharam”, diz Alberto Gallo.

O terceiro problema que precisa de uma solução é a pouca importância dada aos mercados de capitais, como alternativa ao financiamento bancário. Isto passa por avançar no projeto da União dos Mercados de Capitais, onde os progressos têm sido “lentos”, diz Alberto Gallo. Mas a falta de mercados de capitais organizados e fluídos está, defende o economista, a fazer com que a zona euro esteja a perder uma oportunidade dourada.

“Com estímulos monetários, os governos da zona euro recebem uma oportunidade única para reavivar as suas economias”, sublinha o economista. “Nunca na História os investidores estiveram tão desejosos de encontrar retornos e tão ansiosos por ir além dos ativos seguros“, conclui Alberto Gallo, acrescentando que “o BCE aumentou o limite de velocidade, cabe aos governos abrir a auto-estrada dos mercados de capitais e do investimento“.