“Não sou a favor do Acordo”, “contra o Acordo Ortográfico”, “tem de ser feita uma reavaliação”. São as posições de Marisa Matias, Henrique Neto e Maria de Belém Roseira, respetivamente. Um dos cartazes de Maria de Belém, inclusive, apresenta a antiga grafia: “Belém, a força de carácter”.

Foi assinado em 1990, estava Cavaco Silva à frente do Governo. Foi ratificado por Portugal, Brasil e Cabo Verde em 1996, era António Guterres primeiro-ministro. Entrou em vigor em 2009 e, no sistema educativo, em 2011 – ainda José Sócrates estava a governar. Os documentos oficiais do Estado já são escritos desta forma. Estes são apenas alguns dos passos pelos quais passou o Novo Acordo Ortográfico, e já lá vão 25 anos desde que foi assinado por Cavaco Silva. E, ainda assim, continua a não ser uma matéria consensual. Mesmos alguns dos candidatos presidenciais se mostram contra o Acordo.

Henrique Neto é “contra o Novo Acordo Ortográfico”. Este candidato presidencial continua a “usar a antiga grafia”, tanto “pessoalmente”, como nos “textos de campanha”, algo que se pode constatar nos textos do site do candidato presidencial, em que ‘objectivos‘ ainda se escreve assim, como antes do Novo Acordo. Esta é a sua “decisão política” em relação ao Acordo Ortográfico que entrou em vigor em 2009.

Quando a questão lhe é colocada, Marisa Matias é direta: “Não sou a favor do acordo. Entendo que e língua evoluiu não por decreto e sim pela prática“. Na opinião da candidata do Bloco de Esquerda “há várias formas de falar português”, é algo que “depende do contexto” e, nesse sentido, Marisa Matias não pensa “que seja necessário um decreto que harmonize a língua”. Até porque, acrescenta, “a língua foi evoluindo ao longo dos séculos”, foi uma “evolução cultural”. Assim, Matias não concorda com uma evolução do português “por imposição”. Com esta posição, e como refere a candidata presidencial, Marisa Matias não se revê na posição do Bloco de Esquerda: “A minha posição é minoritária dentro do Bloco”. Apesar disto, os textos do site da candidata presidencial encontram-se escritos ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico: por exemplo “projetos“.

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O BE é a favor do AO, no entanto, por considerar que isso ajudará a língua portuguesa “a ter outra afirmação do mundo”.

Por outro lado, o site de Maria de Belém Roseira está escrito de acordo com a antiga grafia da língua portuguesa. Exemplo disso são as palavras “directo” ou “objectivos” que, de acordo com o Novo Acordo Ortográfico, são agora escritas sem o ‘c’. Quando o Observador quis perceber qual a posição da candidata em relação ao Acordo, foi remetido para uma entrevista que Maria de Belém concedeu ao Expresso, no final de outubro: “Tem de ser feita uma reavaliação do Acordo Ortográfico”. Importa “verificar se foram atingidos” os objetivos sob os quais o Acordo foi assinado. E, na altura, Maria de Belém relembrou que “Angola e Moçambique ainda não aderiram e o Brasil adotou uma moratória”.

Edgar Silva atua da mesma forma que Maria de Belém e Henrique Neto. No seu sítio na Internet, o candidato presidencial apoiado pelo PCP também faz campanha com a grafia anterior ao Novo Acordo: “extracção” e “ruptura” são dois exemplos. Edgar Silva que tem “reservas ao Acordo Ortográfico de 1990, não incorporando nas mesmas as alterações ortográficas introduzidas”. O candidato coloca mesmo em cima da mesa uma desvinculação do nosso país em relação ao Novo Acordo: “Conhecidas que são opiniões divergentes e as reticências de alguns países na sua aplicação, não pode deixar de ser ponderada a necessidade de alterações profundas no processo de elaboração e dos conteúdos do AO90 ou mesmo uma eventual desvinculação de Portugal”.

Já os candidatos Marcelo Rebelo de Sousa e Sampaio da Nóvoa apresentam as duas grafias nos seus sites. Se num texto sobre um jantar de Marcelo Rebelo de Sousa a palavra ‘diretor’ está escrita com a antiga grafia – “director” – num outro sobre a homenagem do candidato às vítimas dos atentados de Paris, a 13 de novembro, a palavra ‘projetar’ está escrita assim mesmo, com a grafia atual.

Sampaio da Nóvoa apresenta a mesma dupla grafia. Se um texto incluiu a palavra ‘objetivo‘ sem o ‘c’, um outro apresenta “óptimas” com ‘p’ da grafia antiga.

Contactadas pelo Observador, as candidaturas presidenciais de Marcelo Rebelo de Sousa e António Sampaio da Nóvoa não quiseram esclarecer qual a posição que vincula o respetivo candidato.

*Texto editado por Helena Pereira