O presidente do Congresso dos deputados de Espanha será o socialista Patxi López. O PSOE e o Ciudadanos chegaram a acordo para levar o socialista à presidência da instituição. O Partido Popular abdicou da sua candidatura ao órgão, na sequência do acordo. A eleição que deverá eleger Patxi López está marcada para amanhã.

O recuo do PP foi confirmado pelo atual primeiro-ministro e líder dos populares, Mariano Rajoy, que falou perante a Direção Nacional do PP. Na Mesa do Congresso, composta por oito elementos, o PSOE terá ainda um vice-presidente, ao passo que o PP terá direito a dois (a que se soma uma secretária). O Podemos e o Ciudadanos terão direito a dois lugares cada um.

Esta será a primeira vez em que o Congresso de deputados de Espanha não será presidido por um membro do partido mais votado nas eleições. Algo semelhante aconteceu em Portugal: Eduardo Ferro Rodrigues foi eleito presidente da Assembleia da República sem o acordo da força política mais votada nas eleições anteriores (o PSD).

O acordo foi feito entre os socialistas espanhóis e o Ciudadanos, partido de centro-direita liderado por Albert Rivera. O líder do PSOE, Pedro Sánchez, afirmou não ter discutido a presidência do Congresso com o Partido Popular (o partido mais votado nas eleições de 20 de dezembro), sublinhando que o acordo foi feito apenas com o Ciudadanos. “Não falei com Mariano Rajoy”, disse, citado pelo El Español. Mas, se Sánchez preferiu destacar o fim do confronto com o Ciudadanos, o partido de Rivera fala antes no fim do confronto entre PP e socialistas. No entanto, afirmou também não ter conseguido juntar à mesa o PSOE e o PP: os três “falaram em separado”, diz Rivera.

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O PSOE afirma ainda que para além do Ciudadanos, tentou chegar a acordo com o Podemos, mas tal foi impossível. Segundo relata o El País, a vontade do partido de Pablo Iglesias em ter quatro grupos parlamentares distintos (uma bancada parlamentar nacional e três bancadas parlamentares regionais, que se apresentarem a eleições de forma separada, mas ligados ao Podemos) foi rejeitada pelos restantes três partidos mais votados: PP, PSOE e Ciudadanos. Os socialistas afirmam que o Podemos preferiu dar prioridade às “suas exigências orgânicas e às suas tensões internas”, segundo o El Español.

Pablo Iglesias já criticou aquilo que entende ser um acordo entre os três partidos que, diz, “começam a cavalgar” juntos. O líder do Podemos já havia anteriormente falado na possibilidade de um acordo tripartido entre PSOE, Ciudadanos e PP para a governação do país, criticando-a. Agora volta a fazê-lo e diz ainda que “o PSOE tem de decidir se faz acordos com o PP e o Ciudadanos ou connosco. As duas coisas em simultâneo são muito difíceis”, disse, em declarações citadas pelo El País.

No Senado (a chamada “câmara alta”), o Partido Popular tem maioria absoluta, e, segundo afirmou esta terça-feira o porta-voz do PP, Rafael Hernando, este voltará a ser presidido por Pío García-Escudero. A escolha foi confirmada por Mariano Rajoy.

Quem é Patxi López?

O futuro presidente da Assembleia espanhola tem 56 anos, é dirigente do PSOE e ex-presidente do País Basco. À data da sua eleição, em 2009, Patxi López foi apoiado pelo Partido Popular e pelo União, Progresso e Democracia, um partido centrista espanhol.

Segundo o jornal El País, Patxi Lopez “é muito respeitado” entre os socialistas e “tem um perfil moderado” que agrada ao PP, o que terá sido importante para a decisão do partido em retirar a sua candidatura à presidência do Congresso, permitindo a eleição do socialista.

O facto de ser um socialista basco poderá ainda ser importante para o objetivo delineado pelo PSOE, de fazer uma reforma constitucional e federal que os socialistas têm dito ser a melhor solução para enfrentar os movimentos separatistas, existentes, por exemplo, em Barcelona. Quando foi presidente do governo regional do País Basco, Patxi López teve como prioridade acabar com o terrorismo da ETA, superar a crise económica e defender os serviços públicos regionais.

Mas o mandato de Patxi López pode durar apenas… dois meses. Isto porque, caso a incerteza política em Espanha continue e os principais partidos não consigam chegar a acordo para a entrada em funções de um executivo nas próximas semanas, poderão ser convocadas novas eleições para março. Para compreender o porquê dos partidos espanhóis não chegarem a acordo para a governação do país, leia este artigo; e para conhecer os resultados eleitorais pode ler este ponto de situação, que antecipa os vários cenários e que explica quais as coligações que (ainda) podem ser formadas.

Texto editado por Filomena Martins