“O meu nome é Sadiq Khan e sou o mayor de Londres.” A frase assinala a tomada de posse, este sábado, daquele que é o primeiro muçulmano a liderar uma capital da União Europeia. No discurso proferido na catedral de Southwark, Khan prometeu fazer tudo o que está ao seu alcance para fazer de Londres uma cidade melhor.

Estou determinado a liderar a administração mais transparente e acessível que Londres já viu e a representar todas as comunidades e partes da nossa cidade enquanto presidente da câmara de todos os londrinos. Quis fazer a cerimónia aqui, no coração da nossa cidade, rodeado de londrinos de todas as origens.”

À frente de diferentes órgãos de comunicação social britânicos, Sadiq Khan disse ainda que “nunca sonhou” ascender ao cargo de mayor de Londres. O candidato do Partido Trabalhista (Labour, em inglês) foi confirmado vencedor da eleição para presidente da câmara municipal da capital inglesa ao início deste sábado, 7 de maio, rompendo um longo domínio do partido Conservador que esteve no poder durante oito anos. 56,8% dos votos deram a vitória a Khan, que derrotou o conservador Zac Goldsmith, com 43,2% dos votos.

Ao contrário do seu rival mais direto — Goldsmith é herdeiro de uma fortuna familiar feita na banca –, o novo mayor londrino é filho de um motorista que guiou autocarros pelas ruas de Londres durante 25 anos e de uma costureira que trabalhou a partir de casa de modo a angariar algum dinheiro extra. O casal imigrante do Paquistão pisou pela primeira vez solo britânico na década de 1970, diz a BBC.

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Sadiq, agora com 45 anos, nasceu no St George Hospital e cresceu num bairro social com sete irmãos e uma irmã — a vida começou num apertado apartamento de apenas três quartos. O pai não queria que os filhos seguissem as suas pisadas, passando a vida atrás de um volante, e talvez tenha sido por isso que, contrariando espectáveis dificuldades, sete dos irmãos ingressaram na universidade. “Os meus pais queriam que os seus filhos tivessem um futuro melhor do que o deles”, chegou a dizer Sadiq, citado pelo The Mirror. “O meu pai nunca sentiu vergonha por ser um motorista de autocarros, mas era claro, de uma forma não arrogante, que ele tinha mais educação”, acrescentou.

https://twitter.com/AsharJawad/status/728943980763877377

Desde tenra idade, Khan dedicou-se a desafiar as probabilidades que, na verdade, não estavam do seu lado. Apesar de Londres ser conhecida como uma cidade onde a multiculturalidade sai à rua todos os dias, o mesmo não se pode dizer da Inglaterra da década de 1980. O atual presidente da câmara chegou a recordar que ele e os irmãos sofreram de racismo ainda em crianças, sobretudo quando se deslocavam a jogos disputados pelo Chelsea. As primeiras (e más) experiências no universo do futebol fizeram com que acabasse por se misturar entre os adeptos do Liverpool, embora já tenha admitido que apenas ficou fã porque a equipa “jogava muito bom futebol à época”. A par do gosto pela bola de futebol, Khan e os irmãos ganharam estima pelas luvas de box de forma a conseguirem defender-se sempre que preciso: “Quando estávamos a crescer era frequente levarmos porrada. Saber como dar um murro era essencial.”

Antes de ter ido estudar advocacia para a University of North London, já Khan fazia parte, desde os 15 anos, do Partido Trabalhista. No mesmo ano em que começou a trabalhar como solicitador conheceu a atual mulher (e então colega de profissão), que coincidentemente também é filha de um motorista de autocarros. Os dois casaram-se em 1994 e são pais de duas filhas adolescentes. Mais tarde especializou-se em direitos humanos e em 2005 foi eleito deputado por Tooting, um bairro no sul de Londres. Khan rapidamente deixou a sua marca no Parlamento e já durante o governo de Gordon Brown foi ministro dos Transportes.

Sadiq Khan foi criado como um muçulmano e, segundo a BBC, nunca se distanciou da importância da sua fé, o que faz dele, desde este sábado, o primeiro muçulmano a liderar uma grande capital do mundo ocidental.