No dia 6 de outubro, quinta-feira, Pedro Dias esteve com um grupo de caçadores a almoçar no restaurante “O Constantino”, em S. Martinho de Anta, no concelho de Sabrosa. A mulher do proprietário lembrou-se daquele rosto após ter visto, na televisão, as fotografias do suposto autor dos homicídios de um militar e um civil em Aguiar da Beira. Há 11 dias, o caçador passou a ser um alvo por parte das forças de segurança, que procuram na periferia da cidade de Vila Real o homem que se apresentava como piloto de aviação de cargas.

No domingo, António Constantino estranhou o facto de as autoridades terem indicado aos estabelecimentos comerciais locais para encerrarem às 21h, à exceção da sua pizzaria. Após o fecho do restaurante, o empresário foi abordado pela unidade de investigação criminal. “Disseram-me que andavam à procura de um cliente meu, devem ter chegado até ele através da fatura ou dos movimentos no multibanco”, conta o dono da pizzaria, que está habituado a ver por ali muitos caçadores do Porto, Amarante, Braga ou Guimarães.

Esta ação da Polícia Judiciária demonstra que esta região transmontana é familiar ao alegado homicida, que foi visto pela última vez em Constantim, em Vila Real. O Opel Astra branco, em que se deslocava, acabou por ser abandonado na segunda-feira ali perto, na aldeia de Carro Queimado.

Em conversa com o Observador, foram vários os moradores das aldeias de Assento, Carro Queimado e Constantim que indicaram que Pedro Dias deveria ter ligações a comerciantes de animais daquela região. A tese popular ganhou consistência com as buscas da PJ à Quinta da Gregoça, em Sabrosa. Por aquele ser um espaço frequentado por Pedro Dias, os investigadores procederam a diligências no terreno, sem que o suspeito tivesse sido encontrado naquela propriedade dedicada à vinha e à criação de cavalos.

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O piloto de Arouca tem ligações com os proprietários daquela quinta, fruto de negócios de animais. “Conheci-o há 15, 20 anos, através de um amigo comum. Comprei-lhe um cavalo e mantínhamos algum contacto, mas há seis, sete anos que não estamos juntos. Nem sequer sabia que tinha um filho bebé”, relata o empresário, que conhecia a família do piloto, incluindo a filha mais velha.

Fruto da relação de amizade, o proprietário da Quinta da Gregoça chegou a conhecer a quinta que Pedro Dias possuía em Várzea, Arouca. “Ele gosta de animais e tinha galinhas, patos, gansos, cães e cavalos. E chegou a ter também coelhos. Conheci a quinta da Várzea, onde levei duas éguas para cobrir por cavalos dele”, recorda. O empresário sublinha que nunca notou que o suspeito dos homicídios de Aguiar da Beira tivesse comportamentos estranhos. “Nada fazia prever isto. Nunca lhe conheci nenhuma arma, nem nunca falámos sobre armas. Nem sabia que seria caçador. Não acredito que ele viesse para cá caçar, só ouvi isso agora”, menciona o dono da quinta, que tentou contactar Pedro Dias, após ter tido conhecimento dos crimes. “Telefonei para o Pedro, mas o telefone já não tocou”, conta. Não teve coragem para ligar à família do suspeito. “Não sei o que dizer aos pais, imagino o que estarão a sofrer”, confessa.

Mas, ainda que o dono da Quinta da Gregoça desconhecesse o facto de Pedro Dias possuir armas, a realidade é que na propriedade da Várzea foi apreendido armamento, incluindo caçadeiras de canos serrados. E alguns dos patos que este empresário de Vila Real terá visto na quinta do alegado homicida seriam fruto de furtos. Segundo apurou o Observador, aquele que é o homem mais procurado do país chegou a ser investigado, em 2014, pelo Núcleo de Investigação Criminal do Destacamento Territorial da GNR de Santa Comba Dão, por suspeitas de furto de aves exóticas na zona de Tondela, no distrito de Viseu. Através de uma investigação complexa, as autoridades conseguiram chegar até Pedro Dias. Na mesma altura, foram também furtados dois grous do Pólo Ecológico dos Bombeiros Voluntários de Santa Comba Dão, mas não se conseguiu fazer prova de que esse delito tivesse sido cometido pelo mesmo suspeito.

O dono da Quinta da Gregoça acredita que Pedro Dias não aguentará muito mais tempo escondido. “Penso que não sobreviverá muito tempo sozinho, é impossível”, refere, dizendo que não faz ideia se o fugitivo poderá vir a contactá-lo. “Por um lado, acho que seria capaz de me ir bater à porta, mas, por outro lado, não acredito que o faça, por causa da polícia. Se ele viesse, eu faria o máximo para que ele se entregasse”, frisa.

Excluída por completo está a possibilidade de fuga com sucesso a partir do aeródromo de Vila Real. “Temos GNR 24 horas por dia, é um mito que ele possa fugir a partir daqui”, assegura Henrique Baptista, gestor de segurança e diretor daquele aeródromo. Além disso, lembra que “o aeródromo está sujeito a medidas restritivas de segurança, próprias de um aeroporto”. “Se ele fosse para o ar, passada meia hora levava com um F-16 em cima e abatiam-no”, reforça Henrique Baptista, que teve ainda conhecimento de que a licença de pilotagem de Pedro Dias estará caducada desde 2013.

Aldeias em estado de sítio

Nas ruas das pequenas localidades de Assento, Carro Queimado e Constantim, próximas da cidade de Vila Real é visível que a GNR passou a ter uma postura mais discreta, ainda que interveniente. “A nossa missão prioritária é a segurança da população. Este indivíduo já mostrou ser perigoso, por isso, é um dever garantir a segurança”, destaca o major Marco Cruz, porta-voz da GNR. “As pessoas estão receosas e procuramos dar-lhes tranquilidade”, aviva, sem querer, especificar o número de elementos da Guarda Nacional Republicana que anda a patrulhar aquela zona.

Em Assento, enquanto faz o giro de distribuição do correio, um carteiro confirma o receio da população face à presença, naquele território, de um criminoso em fuga. “As pessoas passaram a fechar bem as portas à chave”, observa. Em relação aos hipotéticos avistamentos de Pedro Dias, este carteiro acredita que seja algo sugestionado. “Como nesta altura há muitas pessoas na floresta, na apanha de cogumelos, pode acontecer verem alguém, ao longe, no meio da mata, e acharem que pode ser o suspeito”, relata.

As suspeitas de que Pedro Dias pode ainda andar por Vila Real têm afetado o normal funcionamento dos cafés das várias aldeias. O dono de um estabelecimento na freguesia de Vale de Nogueiras diz que tem mudado a rotina laboral. “Tenho fechado o café às 21h00, quando costumava estar aberto até à meia-noite. Não é que eu tenha receio, é porque as pessoas têm medo de sair de casa à noite”, conta.

Um outro comerciante menciona que nem tem conseguido dormir, com receio. “A minha filha de 10 anos anda assustada. Em casa, para vestir o pijama tem de ir acompanhada até ao quarto, para ir à casa de banho quer que alguém vá com ela e tem dormido no meio de nós”, relata. “Quem dera que o apanhem rápido, para que possa voltar a dormir tranquilo”, desabafa.

Têm sido feitas operações de busca em várias aldeias de Vila Real, por parte das forças policiais, mas até ao momento, o fugitivo continua a monte.

A tarefa de captura do suposto criminoso não se tem revelado simples, até pela extensão de território onde se calcula que ele esteja escondido. “A freguesia tem 30 quilómetros quadrados, com uma mancha florestal muito densa, com silvados, armazéns agrícolas, que lhe podem servir de apoio, e grutas naturais”, lembra João Almeida, presidente das juntas de Constantim e Vale de Nogueiras.

Fonte policial admite que poderão passar-se vários dias sem que haja desenvolvimentos neste caso.