Foi há precisamente 50 anos que o Rio Arno inundou a cidade italiana de Florença, matando dezenas de pessoas e destruindo milhares de obras de arte de valor inestimável. A maior tragédia alguma vez registada naquela cidade, e uma das inundações mais fortes a atingir a Europa, deixou um rasto de destruição que ainda hoje é visível em Florença.
Durante dois dias, a água chegou aos quatro metros de altura em algumas partes da cidade. Dezenas de pessoas morreram e Florença ficou dividida ao meio pela água. A inundação provou que as autoridades não estavam prontas para enfrentar uma tragédia daquela dimensão, e resultou numa série de reformas nas políticas de proteção civil que duram até hoje.
A Basílica da Santa Cruz, um dos principais monumentos da cidade, foi fortemente afetada, tendo ficado com o interior completamente inundado. As perdas culturais foram, aliás, uma das principais consequências do temporal. Arquivos municipais e estatais, a biblioteca nacional, inúmeras livrarias, o Museu de História da Ciência, entre outras instituições culturais, viram os seus espólios, muito relevantes para a cultura italiana, bastante danificados.
Os trabalhos de recuperação dos arquivos culturais deram origem aos angeli del fango (anjos da lama), um grupo de italianos e estrangeiros que se juntaram, de forma espontânea, para recolher obras de arte do meio dos destroços. A mesma expressão foi usada em outras tragédias ao longo da história de Itália, para designar estas equipas.
O impacto cultural da inundação motivou uma onda de solidariedade a nível mundial. Artistas de todo o mundo juntaram-se para contribuir nos trabalhos de recuperação das obras de arte, e foram inclusivamente desenvolvidas novas técnicas de secagem na sequência da inundação de Florença. Os maiores problemas foram os frescos e as pinturas, cujas camadas superficiais ficaram altamente danificadas. Também aqui foram aplicadas novas técnicas químicas para impedir o crescimento do mofo.
A tragédia teve um impacto a nível mundial. A partir de 1966, vários países do mundo criaram legislação no sentido de intensificar os esforços de preservação de obras de arte. Ainda assim, muitas das obras de arte de Florença que foram danificadas ainda estão guardadas em mau estado, à espera de recuperação.
No dia em que se assinalam os 50 anos da tragédia que mais afetou Florença nos últimos séculos, o Observador mostra-lhe algumas das imagens mais marcantes da inundação. Para ver na nossa fotogaleria.