O nadador Fernando Álvarez partiu do aeroporto Adolfo Suárez, em Barajas, como alguém anónimo. Chegou como um herói, depois de ter cumprido sozinho um minuto de silêncio em homenagem às vítimas dos atentados em Barcelona durante uma prova. Um herói que, afinal, já tinha interpretado esse mesmo papel quando era alguém anónimo. “Desde pequeno que se empenha para que toda a família aprenda a nadar: as filhas, os netos. E já foi socorrista. Um dia, estávamos numa praia em Cádiz e encontrámos uns alemães a beberem. Pois bem, meteram-se a nadar e lá teve ele de ir salvá-los. Ele é mesmo assim”, contou a filha do veterano nadador ao El Español no aeroporto.

Aos 71 anos, Fernando Álvarez ficou sobretudo comovido com o cartaz de “Super Avô” que os netos tinham preparado para a sua chegada a Madrid. O espanhol diz com graça que agora parece Cristiano Ronaldo. “Ligam-me de todos os sítios”, revelou aos jornalistas presentes no regresso do Mundial de Masters de natação, que se realizou em Budapeste. Mas, ao mesmo tempo, tenta passar ao lado do mediatismo que um gesto espontâneo no arranque de uma prova criou um pouco por todo o mundo.

Barcelona. O nadador que fez um minuto de silêncio sozinho

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Ainda esta quarta-feira, a Federação Internacional de Natação emitiu um comunicado assegurando que nunca foi informada sobre a solicitação de um minuto de silêncio pelas vítimas de Barcelona porque, caso tivesse existido uma petição formal, iria anuir ao pedido. No entanto, Álvarez assegura que tentou de várias formas chegar à fala com os responsáveis da competição. “Já tinha competido nos 100 metros e enviei um email para o presidente do evento, depois de me terem enviado um convite para a festa dos Campeonatos no domingo. Na manhã da prova dos 200 metros bruços, às 7h, antes da competição, fui falar com a direção e não me souberam dizer nada”, afiançou o nadador espanhol.

O resto é história: em vez de saltar para a piscina e fazer a prova, Fernando Álvarez cumpriu um minuto de silêncio e só depois entrou na água. Foi um gesto tão espontâneo que não passou ao lado de ninguém. Para o espanhol, bastou-lhe esse “dever cumprido” de ter homenageado as vítimas do ato de terrorismo. “Foi algo que nos afetou a todos, mas, talvez por causa da distância e por ter família em Barcelona, pensei que tinha de fazer algo aqui. Fiquei sozinho, mas não quis saber – senti-me melhor do que se tivesse ganho todas as medalhas de ouro do mundo”, destacou. “No domingo, durante o aquecimento, um nadador sueco veio ter comigo e disse-me que ele e a mulher começaram a chorar com o meu gesto. Aí, também eu fiquei emocionado”, acrescentou.

Pagou para participar nas provas

“Não estranhei nada ter este tipo de gesto, ele é mesmo assim. Uma das suas filhas vive em Barcelona, queria mesmo fazer um minuto de silêncio. E fez. Reparem: ele pagou para participar em três provas dos Masters e deixou que todos lhe passassem à frente para ter uma atenção com as vítimas”, comentou Carolina Pozo, treinadora do Clube de Natação de Cádiz, que destaca também o facto de ter sido pioneiro em Cádiz ao pedir uma licença para competir como veterano, que não existia. “Salvo razões de força maior, vem treinar todos os dias e tenta convencer todos, mais novos ou mais velhos, a virem nadar”, completou.

Nascido em Madrid, Fernando Álvarez foi uma figura de relevo na natação, tendo mesmo sido campeão absoluto de Espanha ao serviço do Real Madrid, quando os merengues ainda tinham a secção. Depois, por causa da crise, deixou a modalidade em termos profissionais mas regressou “a sério” mal se reformou. “Teve um problema no joelho e só voltou em janeiro ou fevereiro. Agora em maio, partiu um osso do braço e esteve fora até junho ou julho”, recorda a treinadora. Mas foi mesmo ao Masters de Budapeste. E ganhou a sua medalha, muito maior do que o ouro.