Este domingo, 24 de setembro, é dia de eleições legislativas na Alemanha. Espera-se que Angela Merkel volte a ser eleita chanceler e que a extrema-direita chegue ao Bundestag. Mas a campanha tem sido bem mais animada do que o normal: muito devido ao programa eleitoral do partido satírico Die Partei.

O Die Partei – O Partido – foi fundado em 2004 pelos editores da revista satírica Titanic e tem sido um autêntico sucesso nas redes sociais e na internet. É liderado por Serdar Somuncu, um comediante, e o boom de seguidores e likes não tem precedentes e tem deixado muito aquém o partido de extrema-direita, o Alternativa para a Alemanha. O programa político do Die Partei inclui medidas como legalizar a condução sob efeito de álcool, introduzir o consumo legal de cocaína sob prescrição médica e raptar o presidente turco Erdogan.

Os dados do Facebook mostram que o partido de extrema-direita tem uma vasta vantagem sobre os adversários no que toca às redes sociais. Em agosto, por exemplo, chegou às 4 mil interações – três vezes mais do que o partido socialista A Esquerda e seis vezes mais do que a CDU, de Angela Merkel. Mas se analisarmos os dados do ano todo, percebemos que o Die Partei cresceu mais rápido online do que qualquer outro partido, amealhando 31.608 novos seguidores, em contraste com os 29.302 do Alternativa para a Alemanha.

Uma das manobras de diversão mais bem sucedidas do partido foi o ataque informático que o próprio “ministro da propaganda”, Shahak Shapira, fez a 31 grupos de Facebook do Alternativa para a Alemanha numa tentativa de “reparar a internet”, nas palavras do próprio. Outro episódio diz respeito ao upload do anúncio publicitário da campanha no site pornográfico YouPorn.

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No seu manifesto, o Die Partei propõe introduzir um sistema em que, nos referendos nacionais, os eleitores só podem votar se responderem a perguntas simples como “qual é a capital de França?”; algo a que chamam “epistocracia moderna”.

“Olhando para os dados, é incrível ver como o Alternativa para a Alemanha e o Die Partei lideram”, diz Tilo Kmieckowiak, do Quintly, um software que faz análises de dados às redes sociais. “Parece que posições políticas escandalosas e humor provocativo geram os níveis mais altos de atenção. Estes números também sugerem que há muito espaço para os outros partidos subirem a parada”, alerta Kmieckowiak.

O partido satírico atrai ódios e amores e tem sido motivo de fação entre jornalistas, críticos e comentadores. Uns dizem que os partidos tradicionais deviam aprender com estas técnicas inventivas; outros defendem que o Die Partei é “elitista, burguês e imoral”. O jornalista Stefan Niggemeier chega a acusar o partido de atrair votos “inúteis” – que podiam muito bem evitar a entrada do Alternativa para a Alemanha no parlamento alemão.

Quer se adore ou se odeie, a verdade é que é pouco provável que o Die Partei consiga os 5% necessários para entrar no Bundestag.